Sobre políticos costuma-se dizer que pensam uma coisa, dizem outra e fazem o que bem entendem. Há exceções, obviamente – e elas devem ser sempre mencionadas. Tome-se o caso, por exemplo, do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, ex-PT, atual PSD. Na campanha pela reeleição em 2016, tentou esconder o fato de que seria candidato ao governo do Estado em 2018. Ninguém se sensibilizou com o lero-lero, ainda que Cartaxo tenha sido reconduzido à prefeitura em primeiro turno. De resto, eleitores estão acostumados à insinceridade de certos políticos – ela ficou impregnada de tal forma no inconsciente coletivo que se banalizou. Não me refiro diretamente a Luciano, nesse caso.
Um fato que merece alvíssaras e evoés foi a atitude do alcaide da Capital assumindo, transparentemente, a candidatura a governador. Tem o cuidado apenas de encaixar no que diz que só tratará do assunto em 2018 porque a prioridade é a demanda administrativa, com seus múltiplos desafios. O eleitor finge que acredita – é mais cômodo. Na prática, sabe que Cartaxo só se dedicará de peito aberto ao projeto de candidatura a governador se sentir que ele é viável do ponto de vista de congregar apoios, especialmente na oposição ao governo Ricardo Coutinho, que o prefeito elegeu como alvo predileto da sua cantilena.
A balela disseminada por Luciano de que nas viagens ao interior do Estado busca fomentar o chamado intercâmbio administrativo, trocando informações com outros gestores a respeito de experiências que são desenvolvidas na Capital e alhures, sempre foi exatamente isso – uma balela. E Cartaxo é maior de idade o suficiente para saber que o eleitor sabe disso. De concreto, conspira-se, e muito, em termos políticos; faz-se mapeamento de redutos prós e contras na hipótese da tal candidatura e discute-se a política de alianças, com suas respectivas compensações, já que política não prescinde do toma lá, dá cá – e esta é outra realidade que não é de bom tom o prefeito da Capital da Paraíba ignorar ou dizer que desconhece.
A questão da transparência virou ponto de honra no Brasil nos últimos anos quando políticos e gestores passaram a ser pilhados em contradições que eram uma estratégia para tentar obscurecer atitudes que estavam praticando. A proliferação de Pinóquios na classe política chegou a assustar os próprios políticos, advertidos, enfim, de que os tempos são outros, de que está na moda ser republicano, assumir o politicamente correto, agir com seriedade e retidão. Isto vale para programas administrativos, vale para intenções ou cálculos políticos. A transparência administrativa é a mais difícil – ainda hoje Cartaxo está às voltas para explicar o que houve de irregularidade e superfaturamento em obras da Lagoa do Parque Solon de Lucena. O Ministério Público e outros órgãos de investigação não arredam pé da apuração, até que tudo seja suficientemente esclarecido ou que os pontos sejam colocados nos is.
Mais cedo ou mais tarde tudo isso, contudo, virá à tona. A projeção é de que venha a desembocar no curso da campanha eleitoral propriamente dita, por iniciativa de adversários do prefeito Luciano Cartaxo, empenhados em detonar o seu projeto político e em desgastar profundamente a sua imagem. O próprio governador Ricardo Coutinho tem ido para o confronto a céu aberto com o gestor da Capital, como se ele (RC) fosse ser novamente candidato ao Palácio da Redenção. É o enredo que vai sendo tocado enquanto as definições não ee afunilam. Claro que Luciano só largará a prefeitura para disputar o governo se tiver garantias mínimas de chances de vitoriar. Até lá, muita água correrá por debaixo da ponte de Bayeux.
Quanto à “Senhora Transparência”, bem…Isto não é apenas uma força de expressão nem tampouco um exercício de retórica que se cobra de gestores e candidatos. É uma imposição que vem de dentro da própria sociedade, exausta com tantos escândalos e tantas decepções. Ou decepitudes, como diria apropriadamente Odorico Paraguaçu, o prefeito da fictícia Sucupira.
Nonato Guedes