Não houve nenhum comunicado oficial sobre ter acabado a Operação Lava-Jato, iniciativa sem precedentes na história do combate à corrupção no Brasil, comparável em dimensão à Opedração Mãos Limpas, desencadeada na Itália e que desbaratou as ramificações de organizações associadas à Máfia e ao crime organizado nas diversas instâncias. Mesmo que no Brasil não tenha havido qualquer comunicação oficial sobre o término da Lava-Jato, paira junto à sociedade algum tipo de sensação nessa direção, a partir de episódios ultimamente verificados e que demonstram um afrouxamento ou leniência na punição a figuras implicadas em atos delituosos contra o erário público.
Contribuiu para que fosse disseminada a confusão o fato de que o senador Aécio Neves, então afastado do exercício do mandato por acusações de envolvimento com propinas, acabou sendo devolvido à instituição parlamentar com honras, equivale dizer, direito ao passaporte diplomático, às mordomias e outros penduricalhos inerentes à função. Tenta-se salvar a aparência com o argumento de que Aécio terá, no exercício do mandato, todo o empenho em se defender das acusações assacadas, estando apto a provar que houve uma conspiração para destruí-lo políticamente. Isto foi anunciado pelo próprio Aécio, livre das amarras do recolhimento domiciliar noturno, que era um suplício para ele, boêmio inveterado, e já escudado outra vez com as prerrogativas da santa imunidade, o privilégio de que os homens públicos não abrem mão neste país porque teoricamente coloca-os a salvo de medidas punitivas ou cerceadoras da liberdade individual.
Coincidindo ou não com a sensação de desaquecimento da Lava-Jato e com o triunfo alcançado pelo senador mineiro, à custa da autonomia do próprio Supremo Tribunal Federal, vê-se que cessaram as investidas, muitas vezes bombásticas, da Operação Lava-Jato no encalço de agentes públicos pilhados em flagrante de saque ao erário. O próprio juiz Sergio Moro, figura exponencial, decisiva para que a Lava-Jato alcançasse a determinação que exibiu e a credibilidade que conquistou, parece abatido, exausto não tanto com a sobrecarga de trabalho, que é imensa, mas com o desgaste de apurar e colher indícios incriminadores que, sabidamente, darão em nada de agora por diante. Porque a verdade é que alguma coisa mudou no cenário brasileiro, algo parecido com a quadratura do círculo ou com idiossincrasias mais ou menos assemelhadas. A própria ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, em que parcelas expressivas da sociedade depositaram esperanças, consta do rol das decepções que vão se acumulando pelo meio do caminho.
Hoje em sua coluna “Esplanada”, que é reproduzida pelo jornal “Correio da Paraíba”, Leandro Mazzini joga no meio das informações uma notícia a pretexto de avivamento de memória: a de que, embora não tenha sido o principal padrinho, o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, apoiou decididamente a nomeação da conterrânea Cármen Lúcia para o Supremo Tribunal Federal em 2006. Passemos a outro capítulo: terá havido uma orquestração para que os casos de Aécio Neves e Michel Temer tivessem desfechos favoráveis a eles e aos interesses que representam? É pertinente a indagação ao constatar-se que a bancada peemedebista no Senado forneceu votos preciosos para que Aécio Neves fosse liberado das sanções que estava purgando. Diz-se que o reverso da moeda virá agora, no julgamento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, oriunda da Procuradoria Geral da República. Será, então, a vez do PSDB oferecer a contrapartida, a reciprocidade, o toma lá-dá cá, votando pela absolvição do peemedebista Michel Temer.
Tudo certo, tudo tranquilo, tudo favorável.
Tudo mesmo? Bem, a classe política já deu provas soberbas de que está se lixando para a opinião pública, para a chamada voz rouca das ruas. A partir daí, vale uma repetição: pode acontecer tudo, inclusive nada. É isto que inquieta e intriga a Nação.
Nonato Guedes