Na constelação de figuras que se destacaram na Câmara Municipal de João Pessoa, na década de 90, pontificou com brilhantismo a advogada criminalista Nadja Palitot, nascida na Capital, professora de Criminologia da UFPB e conselheira da OAB-PB, que exerceu, também, mandato de deputada estadual e foi candidata a prefeita de João Pessoa, sem, porém, lograr êxito. Ultimamente afastada da militância política, Nadja pode surpreender a qualquer tempo – ela não esconde seu fascínio pela atividade e tem na independência e na altivez características marcantes da sua índole. Ela ascendeu à titularidade no legislativo pessoense com a renúncia do então vereador e presidente da Câmara, Wilson Braga, que passou pela Casa de Napoleão Laureano dez anos após ter sido governador do Estado.
Nadja era conhecida como uma espécie de “calo” de administrações estadual e municipal, pela ousadia com que denunciou fatos que considerava absurdos. Como candidata a deputada federal pelo PDT, chegou a alcançar 17 mil votos, insuficientes, contudo, para dar-lhe uma cadeira na Câmara. Um dos entreveros que Nadja teve, na Câmara, deu-se com o vereador Carlos Barbosa de Sousa, do PT, que filmava as sessões ordinárias realizadas no plenário da Casa. Nadja articulou um requerimento, subscrito por onze vereadores, advertindo CBS, como o vereador era conhecido, quanto à hipótese de ser chamado aos tribunais se fosse utilizada alguma filmagem para deturpar ou denegrir a imagem pública dela, Nadja. Nos anais da Casa de Napoleão Laureano constam intervenções de Nadja sobre assuntos distintos. Ela protestou contra a ameaça de fechamento de dezenas de agências da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, instaladas na Paraíba, e conclamou deputados federais e senadores a tomarem posição enérgica diante dessa possibilidade.
Em outra oportunidade, Nadja fez registrar em ata uma manifestação de estranheza quanto ao fato do juiz de Direito Ricardo Vital de Almeida assinar um ofício intitulando-se “juiz de Direito em regime de exceção”, o que para ela configurava uma atitude inconstitucionalmente inadmissível. A trajetória de Nadja está pontuada de episódios que convergiram para levá-la ao exercício da advocacia criminal. Ainda criança, gostava de ouvir o programa Dramas e Comédias, apresentado pelo radialista Enoque Pelágio, que também foi vereador, e, adolescente, entrava na fila do Pronto Socorro para ver os cadáveres de crimes bárbaros. Na leitura dos jornais, a preferência era pelas páginas policiais. Num depoimento à repórter Naná Garcez para matéria publicada na extinta revista “Bastidores”, Nadja Palitot foi incisiva: “A advogada criminal já estava dentro de mim antes de qualquer outra Nadja”.
Em termos político-partidários, Nadja Palitot tinha afinidade com ideários de agremiações situadas à esquerda no contexto nacional. Foi assim que, além do PDT, ela atuou no PSB (Partido Socialista Brasileiro), que na época tinha como expressão destacada a nível nacional o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes de Alencar, que foi deposto em 64 quando do golpe militar, teve os direitos políticos cassados e exilou-se na Argélia. Ele assumiu o comando do PSB ao retornar do exílio nas asas da anistia que foi outorgada pelo general João Baptista Figueiredo, último presidente da República do ciclo militar instaurado com a deposição do governo do presidente João Goulart. No processo de dinâmica política, o então deputado Ricardo Coutinho, atual governador, acabou protagonizando uma articulação de bastidores que lhe deu o comando da legenda no Estado. Nadja, que tinha restrições a Ricardo, não teve outra alternativa senão deixar as fileiras do PSB, ingressando em outras legendas que reconheciam seu potencial.
O caminho de Nadja para a militância política foi curto. “A tribuna, não só a do juri mas a do Parlamento, também me cabe, eu sou muito cidadã, participante, acho que a mulher tem que ocupar espaços e pessoas da classe média têm que ter um direito dentro da política”, justificou. Ao concorrer a vereadora pelo PDT obteve 1.240 votos e ficou na primeira suplência. Dois anos depois, arriscou voo maior, tentando vaga na Câmara Federal. Apuradas as urnas, contabilizou os votos e as mágoas. Rompeu na época do escândalo de Gessner Caetano, fazendo críticas à legenda, “que albergou pessoas com passagem pela polícia; candidatos que deveriam estar banidos da vida pública”. Nadja explicava: “O que as pessoas definem como ambição, eu designo de objetivos. Para mim, quanto mais obstáculos, mais vontade eu tenho de enfrentá-los”. Numa entrevista ao jornalista Abelardo Jurema Filho, Nadja confessou que o anarquismo era o regime dos seus sonhos, “não no sentido vulgar mas na concepção ampla de que a sociedade deve gerir o seu próprio destino”.
Nonato Guedes