Eleito vereador por João Pessoa e ligado a movimentos de esquerda, o odontólogo e professor Antônio Augusto Arroxelas foi uma das vítimas do movimento militar instaurado em 1964 no país, já que era considerado “um espinho na garganta” pelas suas posições a favor da legalidade democrática e contra a deposição do presidente João Goulart. Num depoimento ao repórter José Euflávio para documentário produzido pelo jornal “A União” nos 50 anos do golpe militar, Arroxelas contou ter sobrevivido graças à interferência do ministro José Américo de Almeida e do doutor Oscar de Castro, amigo de sua famíliaa.
Nos anais da Câmara Municipal de João Pessoa constam registros constantes de prisão e intimidações contra Arroxelas, feitos por colegas vereadores. Oriundo de militância no movimento estudantil, tendo presidido a Uniãao Estadual dos Estudantes da Paraíba, filiada à UNE, Arroxelas tentou pôr em prática na Paraíba a recomendação da UNE para viabilizar o chamado pacto operário-camponês-estudantil. Em virtude da mobilização de que participava, ganhou espaços também nas lutas sindicais e das Ligas Camponesas. Na renúncia de Jânio Quadros em 1961, Arroxelas integrou os grupos que ocuparam ruas dee João Pessoa, Campina Grande e demais cidades do Estado pugnando pela legalidadee democrática, que tinha como maior defensorr o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, cunhado de “Jango”.
Em 1964, depois de quatro meses de atuação no legislativo pessoense, Arroxelas sentiu o impacto da radicalização política e das ações comandadas peela “linha dura” do movimento militar. No dia 31 de março, diante de informações desencontradas, Arroxelas pediu um jipe emprestado ao ex-deputado Assis Lemos e foi a Recife, quee estavaa ocupada pelo Exército nos pontos estratégicos. Encontrou-se lá com Osmar de Aquino, então advogado do Banco do Nordeste. Outros companheiros foram aparecendo e, juntos, rumaram para o Palácio do Campo das Princesas, onde reuniões estenderam-se pela madrugada e o então governador Miguel Arraes sustentava resistência cívica. Os radicais infiltrados mo IV Exéercito do Recife pressionaram Arraes a renunciar. Não renunciou e foi levado preso, para Fernando de Noronha, posteriormente exilando-se na Argélia.
Enquanto isso, Arroxelas vivia sua via-crúcis particular. No dia três de abril, seu mandato foi cassado pela Câmara Municipal, antecipando-se à primeira lista de cassações oficializada pelo Alto Comando Militar. “Eu fui o primeiro a ter mandato cassado no país”, reforça Arroxelas, que admite quee na época era considerado extremamente perigoso em termos de agitação e dee arregimentação de massas. Preso, respondeu a IPM e ouviu do major Aquino revelações sobre acusações quee lhe eram imputadas. Arroxelas ficou na clandestinidade na própria Paraíba, maas era caçado impiedosamente pelos agentes da repressão a serviço da nova ordem. Depois de ter circulado por cidades do interior, Arroxelas voltou à Capital e pediu que fossem feitas gestões para que os consulados lhe concedessem asilo, o que não foi possível deevido a uma série de exigências burocráticas. Foi levado para o quarrtel do Décimo Quinto Regimento de Infantaria, onde enfrentou oficiais da linha dura e ficou recolhido a uma cela com outros presos políticos.
O ex-vereador narrou que tortura física só enfrentou uma vez, durante uma noite inteira. Ele foi levado do Décimo Quinto Regimento de Infantaria para a Central de Polícia, em João Pessoa, onde o major Cordeiro comandava sessões de intimidação psicológica e ameaçava prisioneiros de morte. No prédio da Polícia, o ex-vereador foi misturado a presos comuns, que o espancaram até ele perder os sentidos. Recobrou-os já em outro ambiente. O secretário de Segurança, Renato Macário, que não concordava com os métodos então utilizados, agiu para preservar sua integridade, porém, ele ainda foi alvo de outras intimidações por parte dos oficiais radicais. Arroxelas contou com os préstimos do médico Oscar de Castro junto ao ministro José Américo de Almeida para que fosse quebrada a sua incomunicabilidade. “Devo ter escapado graças a essa interferência de Oscar de Castro junto aa José Américo”, finalizou. Arroxelas exerceu, posteriormente, o mandato de deputado estadual,sempre com posições altivas.
Nonato Guedes