O brasileiro adora cultivar um líder messiânico, principalmente na política. Parece fazer parte da nossa cultura desde que fomos colonizados pelos portugueses em 1.500. Aqui, neste país, a população mal discute ideias, propostas, partidos, mas existe o maior orgulho em fulanizar seu voto, seu líder. Não é à toa que os três nomes que mais parecem polarizar o debate político para 2018 são Lula, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes. E não parece mera coincidência que este último esteja usando Bolsonaro como referência agora.
Isso mesmo! De olho no voto dos eleitores de Jair Bolsonaro, Ciro Gomes fez declarações recentes tratando o deputado federal como mais íntegro que as lideranças tucanas. Em entrevista ao Canal Livre, da TV Bandeirantes, Ciro disse que a boa performance de Bolsonaro nas pesquisas reflete a indignação justíssima de uma fração enorme do povo brasileiro com a política tradicional e da crença de que uma autoridade forte, um machão, um exagerado seria necessário para dar rumos ao país.
Esse machão, esse exagerado, poderia ser o próprio Ciro ao invés de Bolsonaro, não? Bingo! Chegamos onde Ciro queria chegar. Vejam o que o ex-marido de Patrícia Pilar disse, ao analisar que Bolsonaro vai acabar perdendo votos na campanha disputando no mesmo campo do PSDB: O eleitor do Bolsonaro é meu. Ele não percebeu, mas eles estão procurando seriedade, autoridade. Sou eu que eu sou isso, de verdade.
É, de besta, na política brasileira, só tem mesmo o povo, que continua votando e brigando por esses discursos messiânicos, do sou eu que resolvo, sou eu que tiro o país da miséria. Seja à direita, seja à esquerda. Lembram dos antigos coronéis dos rincões sertanejos, que mandavam em tudo? Eles ainda existem, só que não andam à cavalo e nem recebem os eleitores no alpendre, no oitão da casa. Mas sim nos gabinetes nada limpos de Brasília.
Esse messianismo que vingou com Getúlio Vargas e outros líderes políticos, parece querer vingar em 2018, ao tempo em que a população brasileira anda descrente de tudo, mas não de todos. Vai em busca de lideranças fortes, do machão, do exagerado, como disse Ciro Gomes, para manter a utopia de que poderemos ser o país do futuro. Aliás, essa fala de Ciro está um bocado machista.
Em tempo: o Wikipédia define o messianismo como a crença na vinda – ou no retorno – de um enviado divino libertador, um messias [mashiah em hebraico, christós em grego], com poderes e atribuições que aplicará ao cumprimento da causa de um povo ou um grupo oprimido. Há entretanto um uso mais amplo – e às vezes indevido – do termo para caracterizar movimentos ou atitudes movidas por um sentimento de “eleição” ou “chamado” para o cumprimento de uma tarefa “sagrada”.
Ao povo, resta cantar os versos da música de Gilberto Gil:
(…) Muita gente se arvora
A ser Deus
E promete tanta coisa
Pro sertão
Que vai dar um vestido
Pra Maria
E promete um roçado
Pro João
Entra ano, sai ano
E nada vem
Meu sertão continua
Ao Deus dará (…)
Linaldo Guedes