O senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, ainda chegou a pontuar desejo de apoio ao senador peemedebista José Maranhão como candidato ao governo da Paraíba em 2018, desde que tal candidatura se situasse no eixo da oposição ao governo Ricardo Coutinho, que já abarca as pretensões dos prefeitos de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD) e Campina Grande, Romero Rodrigues, tucano. Mas Maranhão persegue, cada vez mais, um projeto autônomo para a disputa do próximo ano, oferecendo-se novamente como alternativa ao Palácio da Redenção e renegando cargos na gestão de Cartaxo, que, aliás, de acordo com ele, são poucos, “pouquíssimos”.
Convenhamos: na hora em que o PMDB abre mão de cargos em prefeitura é porque vislumbra coisa melhor, no governo do Estado. Não é nenhum segredo, aliás. O próprio senador Maranhão afirmou na semana passada que poderia ser mais vantajoso para o PMDB estar entronizado no governo estadual do que contentar-se com bugigangas oferecidas pela administração pessoense. Agora, de forma incisiva, Maranhão desdobra o seu raciocínio, deixando claro que não há uma participação consistente do seu partido na definição de políticas públicas para João Pessoa, com isto dando a entender que a mera ocupação de uns “poucos cargos” não satisfaz as ambições peemedebistas de retomada, senão da hegemonia, certamente do papel influente que já protagonizou na cena política paraibana nas últimas décadas.
O PMDB de Maranhão está com saudades da caneta, esta é que é a verdade. Trata-se da chamada caneta do poder, aquela que tem o poder de nomear e demitir. Somente com a caneta, que preenche espaços no Diário Oficial, certos partidos costumam sentir-se plenamente recompensados na luta política. Ela ainda é um poderoso instrumento psicológico, espécie de chamariz para lideranças, principalmente nos interiores, onde a ação do poder público se faz imperativa nos embates travados a céu aberto entre expoentes ou remanescentes de antigos cordões que se debatem enquanto podem e os eleitores toleram, porque da mesma forma com que se enfrentam também são capazes de se entrelaçarem, de fazerem composição, elegendo outros alvos adversários. Tem sido assim, de forma recorrente, na crônica política – da Paraíba e do Brasil.
Maranhão desdenha ostensivamente da importância da vice-prefeitura de João Pessoa, que está nas mãos do seu correligionário peemedebista Manoel Júnior. Intui que Manoel tem autonomia limitadíssima – e na verdade é utilizado pelo prefeito Luciano Cartaxo e seu clã como um despachante de luxo, por ter sido deputado federal, para atuar junto à bancada paraibana em Brasília ou junto aos escalões de ministérios a fim de assegurar recursos e obras que possam espalhar canteiros por João Pessoa e, assim, consolidar a administração do PSD no confronto que é público e notório sustentado com o governo de Ricardo Coutinho. Maranhão quer mais – ou, see quiserem, quer tudo: quer o poder total, enfeixado por ele. Não se resigna com papéis secundários ou irrelevantes para a agremiação.
Na construção desse enredo em que busca a retomada do protagonismo – total ou quase, Maranhão sabe que vai sendo empurrado gradativamente para uma aliança com o esquema do governador Ricardo Coutinho (PSB), cujo candidato a governador, João Azevedo, um técnico de sobeja competência, reconhecido em todos os círculos, não decola, entretanto, em intenção de voto, sequer conseguindo sensibilizar militantes dos girassóis. Maranhão sabe que, com o seu PMDB, pode contribuir como objetivo de Ricardo de derrotar seus dois adversários mais evidentes a dados de hoje – Cássio Cunha Lima e Luciano Cartaxo. Por tudo isto é que Maranhão está em estado de graças, esperando a oportunidade decisiva para entrar em cena e ajudar a decidir a parada. Quem quiser que pague para ver.
Nonato Guedes