As constantes campanhas pedagógicas que tem sido feitas no País, buscando sensibilizar o eleitor a votar de forma consciente e não se deixar levar por favores ou vantagens pessoais, ainda constituem o grande instrumento para sensibilizar recalcitrantes ou desinformados e, por via de consequência, para punir políticos com mandatos que traem a confiança e as expectativas da opinião pública. Muitas das escolhas erradas ou equivocadas que têm sido feitas para cargos eletivos poderiam ter sido sumariamente evitadas se proliferasse a conscientização plena dos eleitores.
Ainda ontem, em entrevista que concedeu por telefone a uma emissora de rádio de João Pessoa, o procurador Deltan Dallagnol, um dos expoentes da força-tarefa da Operação Lava-Jato, insistiu na assertiva de que o voto é que pode mudar a situação no Brasil. Ele foi enfático ao reconhecer a importância que a Lava-Jato tem tido para coibir abusos e para flagrar corruptos mas fez questão de ressaltar que ainda são necessários novos passos, que passam, principalmente, pela população. Ou seja, é chegada a hora do eleitor respaldar a legitimidade das investigações, defenestrando políticos que, mesmo acusados, mantêm-se impunes na vida pública, usufruindo regalias ou privilégios.
O marco da Lava-Jato está na punição severa aplicada a parlamentares que exercem mandatos, na Câmara Federal e no Senado, bem como integrantes e ex-integrantes de governos que se instalaram nos últimos anos nos centros de decisão. Pela primeira vez, na história brasileira, políticos de projeção dividiram com ex-ministros todo-poderosos e com empresários carimbados pela influência as celas de presídios construídos em diferentes espaços geográficos do país. As medidas tomadas reproduziram a mensagem que está expressa no enredo do filme “Polícia Federal – Ninguém está acima da Lei”. Até um ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi alvo de sentença condenatória, ainda que não tenha sido preso. Mas teve que prestar depoimentos em Curitiba, onde está a matriz da República contra a impunidade instaurada no Brasil.
Em termos textuais, foi assim que se manifestou o procurador Deltan Dallagnol, com a autoridade de coordenador da força-tarefa da Lava-Jato: “A Lava-Jato rompeu vários padrões de injustiça neste país; rompeu os padrões dos poderosos, tanto assim que estão sendo recuperados mais de R$ 10 bilhões. Os brasileiros precisam entender que é preciso parar de se vitimizar, de colocar sempre a culpa no passado do país. Em 2018, nós vamos ter a oportunidade de eleger novos representantes. E precisamos de pessoas com integridade na política”. Por ter empregado uma metodologia prática, de resultados, a Operação Lava-Jato diferenciou-se de outros experimentos tímidos que foram testados no Brasil e que alimentaram a cultura da impunidade por não terem oferecido os resultados esperados.
Ainda Deltan Dallagnol: “Nós hoje temos um sistema em que a pessoa não só não é punida como sai com o bolso cheio de dinheiro. Precisamos inverter esta situação. E nós chegaremos a outro estágio colocando pessoas no Congresso com o passado limpo e que não tenham sido investigadas”. Como o procurador enfatizou, o Brasil sempre se caracterizou por ser um país em que os principais líderes estavam comprometidos com a corrupção. A diferença é que, hoje, há uma mensagem de esperança para o futuro. “Nós vimos boa parte da elite econômica e política se unindo para roubar a nação. Por muito tempo, os representantes dessas elites garantiram a própria impunidade até que de um tempo para cá houve um reforço das leis. Isto veio como um sopro de esperança para os brasileiros, deixando patente a mensagem de esperança de que é possível mudar”.
Um outro aspecto que chama a atenção no posicionamento do procurador da Lava-Jato é a constatação de que os executores da Operação não estão cometendo atos de heroísmo, mas cumprindo deveres que durante muito tempo foram segregados por causa da vigência da cultura da impunidade. “Os heróis são os cidadãos brasileiros que têm o poder de mudar a nossa realidade”, compara Deltan Dallagnol. A perspectiva de realização de eleições gerais no próximo ano é uma promissora coincidência para brasileiros de variados extratos sociais e faixas etárias: a coincidência com o combate à impunidade. Este deve ser o corolário da manifestação de voto que os eleitores exercerão, renovando a representação política e escoimando-a de vícios até então enraizados.
Nonato Guedes