Como reagiria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se fosse candidato a presidente da República em 2018 e tivesse como adversário principal o senador mineiro Aécio Neves, do PSDB? A dados de hoje, é incerta a hipótese de candidaturas de Lula ou de Aécio a presidente no próximo ano. Lula está sub-judice porque foi condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão, e embora esteja solto não tem o direito à elegibilidade garantido. De resto, o processo que o envolve tende a se arrastar por mais algum tempo, dificultando prognósticos para o próprio PT, o mais interessado em uma definição, já que quer retomar o poder como revanche pelo impeachment de Dilma Rousseff quando esta se encontrava no exercício do segundo mandato, teoricamente conquistado contra Aécio em 2014.
No que diz respeito a Aécio, parece irremediavelmente rifado como candidato a presidente da República dentro do PSDB depois da “via-crucis” porque passou, acusado de receber propina, o que lhe valeu o afastamento do mandato de senador, somente retomado graças à decisão de um ministro amigo que dá expediente no Supremo Tribunal Federal. O “inferno astral” de Aécio ainda prossegue, dentro do próprio ninho tucano, com a pressão renitente para que abandone a presidência nacional do PSDB, da qual está licenciado, em virtude de questões éticas, já que Neves não é considerado talhado para conduzir o partido nos próximos embates estando encalacrado como está.
Descartado, então, em princípio, um confronto Lula X Aécio em 2018, cabe avivar a memória de leitores e eleitores com o registro de que no passado recente o ex-presidente petista nutria relação respeitosa quanto ao senador-neto de Tancredo Neves. No livro “Dicionário Lula – Um Presidente Exposto por Suas Próprias Palavras”, de Ali Kamel, da Rede Globo, consta um espaço dedicado a Aécio Neves, retratando declarações de Lula a respeito do senador tucano. Aécio foi governador nas duas vezes em que Lula foi presidente da República – e havia, por assim dizer, uma relação mais do que institucional, quase de apreço entre eles, pelo menos da parte de Lula. Em 2004, durante entrega de cartão do Bolsa Família, em Belo Horizonte, o presidente Lula entoou: “Eu penso que se todos os governadores do Brasil tivessem o comportamento que tem o Aécio Neves certamente nós não teríamos problemas entre o presidente da República e os governadores”. Numa fala em Pouso Alegre, Lula seguia: “E o governador Aécio, embora seja jovem, tem muita experiência política”.
Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do jornal Folha de São Paulo, em 2007, Lula mandou ver: “Eu considero o Aécio um companheiro, tenho uma boa relação com o Aécio. É um menino preparado, politicamente jeitoso. Eu acho que é uma grande figura”. Em Uberaba, na inauguração da ExpoZebu, o presidente frisou: “Sabe o governador Aécio Neves que eu vou tratá-lo como se ele fosse meu irmão, como se ele fosse do PT”. E na inauguração das obras de ampliação e modernização do aeroporto de Uberlândia, em 2005, Lula afirmou: “Pela relação de amizade que eu tenho com Aécio, desde o tempo da Constituinte, que permite que a gente possa dizer que nós temos uma relação de jogador de futebol, em que meu time sempre ganhava do dele – o máximo que eles conseguiam era empatar”. E, fechando o firo, dizia Lula: “Eu não tenho dúvidas de que se for necessário um dia o governador Aécio Neves fazer críticas a mim, como presidente da República, eu não tenho dúvidas de que ele as fará. Da mesma forma que não tem dúvida o Aécio que se for necessário fazer crítica por erros cometidos pelo governador de Minas Gerais, eu as farei”.
A história mostra que houve necessidade de críticas, de parte à parte – e tanto Aécio criticou o presidente Lula quanto Lula criticou o governador, o senador e o presidenciável Aécio Neves. Mas sempre houve algum tipo de armistício – e, pode-se dizer, de afetividade mesmo entre Lula e Aécio – não tivesse o ex-presidente petista uma vocação paternal que exercita à larga nos discursos, sobretudo nos de improviso. É curioso imaginar que a dados de hoje Lula e Aécio sejam incógnitas para a eleição presidencial de 2018. Se houvesse lógica rigorosa em política, os dois estariam se aquecendo para se confrontar nas urnas. Os fatos não conspiram para isto, com certeza. Mas não deixa de ser interessante constatar que em certos momentos da vida pública brasileira Lula e Aécio tenham se tratado de forma cavalheiresca. A ponto de se imaginar que Lula quase convidasse Aécio a entrar no PT e ser candidato a presidente com apoio dele. Política é dinâmica, já dizia o filósofo paraibano Manuel Gaudêncio.
Nonato Guedes