Não se fala em outra coisa no Brasil nestes últimos dias. Quer dizer, até se fala, sim, mas não com a constância com o que o tema Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é abordado nos principais veículos de comunicação do país e nas redes sociais. Enquanto hoje é um feriado feito para reverenciar os mortos e muitas famílias pegaram a estrada em busca de descanso e lazer, estudantes de todos os recantos do país investem nas revisões finais para as provas que começam já no próximo domingo.
Nada mais natural que assim seja e que o Enem desperte tanto frisson nos jovens e adolescentes do Brasil. Afinal, é a porta de entrada para as universidades e isso, para muitos, significa muito mais do que apenas buscar ampliar conhecimentos numa área de estudo que lhe interesse. É que ao longo dos tempos o vestibular e depois o Enem se transformaram em alvo para quem quer um futuro profissional melhor através dos estudos. Nestes tempos de crise, então, onde o descrédito com a classe política e com as instituições públicas têm sido imenso, a valorização de exames como o Enem é uma forma também de responder a isso tudo: Ei, eu não dependo de vocês, políticos, para crescer na vida. Passei no Enem, vou fazer o curso que quero e investir numa carreira profissional para não depender de suas corrupções e mentiras eleitorais.
A valorização do Enem e do conseqüente ingresso na Universidade gera como consequência, lógico, muita polêmica em torno do Exame Nacional. Isso explica, inclusive, o fato de o Enem ser alvo sempre de tentativa de fraude. Pelo menos é assim que pensa Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Seu entendimento é que a valorização do Enem atrai aproveitadores e pessoas de má fé. De fato. Na segunda-feira (30), por exemplo, a polícia deflagrou duas operações uma em Goiás e outra no Distrito Federalcontra um grupo suspeito de ter praticado fraudes em diversos concursos públicos e vestibulares pelo Brasil, inclusive o Enem.
Outra polêmica que preocupa muito envolvendo o Enem. Uma decisão judicial proíbe nota zero para candidato que desrespeitar direitos humanos na redação. Em entrevista ao jornal Correio da Paraíba, o ministro da Educação, Mendonça Filho, rebateu essa decisão com a seguinte frase: A questão dos direitos humanos é básica e fundamental, até porque estamos falando em educação e não poderíamos ter uma linha de ação distante dessa realidade. Mendoncinha, como é chamado na classe política, tem sido alvo de muitas críticas, mas dessa vez acertou. Um possível ingresso na universidade já desrespeitando os direitos humanos com certeza não vai trazer boas perspectivas para os profissionais que venham ser formados no ensino superior.
Linaldo Guedes