A ex-presidente Dilma Rousseff, primeira mulher a ascender à Presidência da República do Brasil e também a primeira a ser despejada em meio a um processo de impeachment conduzido no Congresso Nacional, tende a se tornar a grande abandonada na campanha eleitoral do próximo. Os líderes petistas não pretendem se empenhar por Dilma se ela for candidata ao Senado pelo Rio Grande do Sul ou por Minas Gerais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se jactou de ter conseguido a façanha de eleger e reeleger Dilma, cada vez mais se distancia dela, até em declarações públicas que deixa escapar.
Uma dessas declarações de Lula sinalizou que o PT está disposto a perdoar políticos que até então chamava de “golpistas” por terem sido, supostamente, responsáveis pela derrocada de Dilma do Palácio do Planalto. Em troca do perdão, Lula alimenta a expectativa de que partidos como o PMDB venham a se coligar com o PT em eleições estaduais, uma equação que em alguns Estados pode atrair, também, o PSB. Uma outra manifestação de Lula pouco simpática à ex-presidente Dilma Rousseff foi a de que ela teria traído eleitores ao pôr em prática ajuste fiscal, o que não havia sido prometido durante a campanha eleitoral.
Em relação a uma candidatura de Dilma ao Senado em 2018, o articulista Merval Pereira informa, em sites na internet, que a avaliação dentro do Partido dos Trabalhadores é a de que a ex-mandatária nem ajuda nem atrapalha os rumos que o PT precisa tomar para recompor forças nacionalmente e, setorialmente, em Estados considerados importantes para reforçar campanhas eleitorais, a exemplo do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Presidente do diretório estadual do PT em São Paulo, o sindicalista Luiz Marinho encampou o movimento para que o PT passe uma esponja no passado recente e vislumbre as alternativas futuras. Os petistas, desde o impeachment de Dilma, “elegeram” Michel Temer como inimigo, por ter sido vice da ex-presidente e supostamente ter colaborado para que houvesse o impeachment, que num primeiro momento o petismo denominou de golpe.
Embora não haja garantias de que legalmente o ex-presidente Lula seja elegível, diante de processos a que ele responde e da condenação a nove anos e seis meses de prisão imputada pelo juiz Sérgio Moro, um dos artífices da Operação Lava-Jato, o petismo considera Lula a grande alternativa para viabilizar o retorno do partido ao Planalto. Num primeiro momento, a condenação imposta por Lula deixou o PT atordoado e gerou propostas como a da senadora Gleisi Hofmann, presidente nacional da legenda, no sentido de que o partido promova um boicote às eleições gerais de 2018, deixando de lançar candidaturas nos diferentes níveis. A estratégia teria por finalidade denunciar, na mídia internacional, o presumível golpe que teria sido perpetrado com o afastamento de Dilma da presidência da República.
A tese do absenteísmo nas eleições gerais de 2018 passou a ser tida por segmentos petistas como inócua e nociva à legenda, significando uma espécie de “suicídio” tendo em vista que a ausência do PT da próxima campanha favoreceria as demais agremiações envolvidas diretamente no jogo, com postulantes a cargos de todas as esferas em disputa. Lula, que já promoveu uma caravana pelo Nordeste, passando, inclusive, por João Pessoa, onde foi recepcionado pelo governador Ricardo Coutinho, do PSB, concentrou a segunda etapa da caminhada em Minas Gerais. O ex-presidente, de acordo com fontes que lhe são próximas, tem sido alertado de que o PT corre o risco de definhar completamente se não participar das eleições, oferecendo uma perspectiva de poder para militantes e podendo atrair eleitores indecisos.
Nonato Guedes