Algum leitor eventual destas linhas ficará surpreso se porventura em 2018 deparar-se no mesmo palanque na Paraíba com as presenças de Ricardo Coutinho, José Maranhão e Luiz Couto? A hipótese não parece ser motivo para comoção ou surpresa. Ontem, o sindicalista Luiz Marinho, que dirige o PT na região do ABC paulista, propôs que os petistas passassem uma esponja no passado recente e esquecessem o que qualificou de “rixa do impeachment”, numa alusão ao afastamento de Dilma Roussef da presidência da República, que favoreceu a ascensão do peemedebista Michel Temer à plenitude da titularidade.
Desde então, petistas, por honra da firma, passaram a denunciar “ao mundo” que havia ocorrido um impeachment arbitrário no Brasil, equivalente a um golpe de Estado, patrocinado com a chancela do Congresso Nacional. Só avivando a fraca memória petista: Dilma não conseguiu explicar a contento as “pedaladas fiscais” de que foi acusada e, portanto, não ofereceu subsídios que levassem juízes a um convencimento irrestrito da sua inocência. Foi apeada do poder mas quem ganhou o papel de vítima foi o seu inventor, o ex-presidente Lula, condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, embora não tenha sido preso ainda. Lula tem sido visto ultimamente percorrendo o país numa tal Caravana que, na verdade, afronta, desrespeita a legislação eleitoral. Mas, assim como não foi preso, apesar de condenado, não é punido, apesar de ferir a Lei na propaganda antecipada para uma eleição que vai ser travada no próximo ano.
Abstraindo essas idiossincrasias que, honestamente, só acontecem no Brasil, temos a proposta do reatamento da aliança PMDB-PT. Aos que se apressam em acusar o PT de incoerência, vale informar: o partido está esfacelado nacionalmente, sem comando e sem perspectivas de reabilitação depois que Lula foi condenado e que uma penca de dirigentes e tesoureiros acabou atrás das grades, sem falar que a senadora Gleisi Hoffmann, eleita presidente nacional da agremiação, está enrolada até o pescoço em processos cabeludos que podem render-lhe, futuramente, alguns aborrecimentos, digamos assim. O marido de Gleisi, o Paulo Bernardo, foi “aquele” que se aproveitou do dinheiro dos fundos de pensão dos coitadinhos dos trabalhadores para construir fortuna ilícita. O PT, infelizmente, como se sabe, deixou de frequentar o noticiário político-institucional para se tornar freguês dos prontuários policiais.
É um partido à deriva, desmoralizado no âmbito internacional juntamente com o líder maior, Lula, que chegou a ser saudado como o Lech Walesa dos trópicos, numa comparação ao líder polonês que saiu dos estaleiros de Gdanski, onde comandou memoráveis manifestações políticas, para alçar à presidência da República. O Lula, que não sabe de nada, que nunca soube, nunca foi avisado, nem mesmo sobre depósitos feitos em sua conta ou sobre detalhes da transferência de imóveis para sua propriedade, como o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia, circula pelo país como um zumbi, embora, na falta de outras opções, ainda figure em pesquisas ou sondagens para o pleito presidencial de 2018. De sua parte está empenhado mesmo em obter o alvará para equipar o seu sítio Los Fubangos, herança da convivência com a falecida dona Marisa. Quanto ao PT, está carente de líderes, de votos, de bandeira. E de dinheiro, claro – de preferência dinheiro não contabilizado, tipo aquele que foi popularizado no folclore pelo ínclito Delúbio Soares.
O PT pode definhar melancolicamente em 2018 – mas também pode ganhar uma sobrevida, se como disse Marinho esquecer a rixa do impeachment e abrir-se para alianças e para o fim do sectarismo – postura que em outros tempos rendeu, no caso da Paraíba, vetos a líderes de escol como Antônio Mariz, Marcondes Gadelha, Lúcia Braga. Este é o enredo que está posto. E, como se diz na gíria, é pegar ou largar. O PT deve pegar…
Nonato Guedes