As pesquisas de opinião pública, projeções e sondagens que têm sido feitas em relação à disputa presidencial de 2018 no Brasil convergem para um ponto comum: o jogo está em aberto, do ponto de vista de preferências ou intenções de voto, mas há sinalizações que rejeitam o discurso do radicalismo como alternativa para a conquista do Planalto. Isto pode sinalizar que Jair Bolsonaro, militar conhecido junto à alta oficialidade como “bunda-suja”, não irá longe na empreitada que, por enquanto, aparentemente o favorece. “É preciso saber jogar”, adverte uma reportagem da revista “Veja” sobre o cenário para a futura eleição presidencial.
“Veja” avalia que os eleitores brasileiros assustados com as opções mais radicais, encarnadas em figuras patéticas como Bolsonaro, o “Hitlerzinho” brasileiro, constituem o motor da busca mais frenética da política atual: a tentativa de encontrar um nome situado mais ao centro do espectro ideológico, como ocorreu na França com Emmanuel Macron, cuja campanha, em apenas um ano, saiu do nada para o triunfo. A batalha pelo “Macron brasileiro” teria ganho fôlego na proporção em que perdeu ritmo a candidatura de João Doria, o almofadinha prefeito de São Paulo. Nos meios políticos, insinua-se que Doria queimou a largada e se desgastou dentro do PSDB. Como não há espaço vazio, o velho Geraldo Alckmin ganhou fôlego para tentar – outra vez.
Sim, há Lula. Mas atrás dele há uma incógnita. O ex-presidente lidera as intenções de voto, mas seus percentuais oscilam, o que estaria a indicar que não há fidelidade absoluta à sua candidatura, como em outros tempos. Ainda por cima, Lula tem dúvidas sobre se poderá ser registrado como candidato a presidente da República. Condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, ele ainda tenta reverter esse fantasma que é uma pedra no meio do caminho. O PT vai esticar a corda até onde for possível, o que significa que manterá a pretensa candidatura de Lula enquanto não vier uma impugnação concreta.
Até certo ponto, de acordo com a “Veja”, a eleição presidencial de 2018 guarda semelhanças com a corrida de 1989, a primeira depois da ditadura militar. Naquela época, o eleitorado estava assustado com o candidato do PT – sim, ele mesmo, o Lula, cujo discurso ainda não havia sido amansado para conquistar a confiança do mercado e a busca por um nome palatável também chegou às telas de televisão. Sílvio Santos, então com 58 anos, foi cogitado, como agora se cogita Luciano Huck, até ter sua candidatura impugnada. A busca por um nome acabou no desastre chamado Fernando Collor. “Em grande parte – informa Veja – esse desfecho deveu-se à incapacidade da elite econômica e financeira do país para expor-se politicamente. Em vez disso, ela procura prepostos. Na França, Macron é, ele próprio, um nome da elite financeira e econômica de seu país que não se comporta como avestruz quando o assunto é política.
A conjuntura de indefinições que o Brasil experimenta, de permeio com o profundo desencanto de parcelas representativas do eleitorado, favorece a eclosão de uma miríade de pretensos candidatos a salvadores da Pátria. Os antipolíticos acreditam que isso basta para que eles se credenciem perante o eleitorado. As pesquisas revelam, entretanto, nas entrelinhas, que os eleitores buscam mais do que rótulos. Querem avidamente propostas consistentes e confiáveis para a retomada do crescimento econômico. Numa circunstância assim, o risco de aventureiros terem êxito é muito complicado. E o caminho do radicalismo é mau conselheiro. Quem viver, verá!
Nonato Guedes