Lembram do João Doria, o prefeito-factóide de São Paulo, que ensaiou um populismo de elite e de direita? Deu com os burros n’agua. Era fortíssimo candidato a presidente da República em 2018 na faixa de centro-esquerda, uma espécie de resposta de parcelas do eleitorado ao desastre que foram os governos do PT atolados em mensalões e petrolões da vida. Não é mais. Procura escafeder-se, pelo menos, na condição de vice – talvez do Geraldo Alckmin, o que seria impraticável porque teríamos, nessa hipótese, dois candidatos paulistas ou paulistanos. O fato é que Doria saiu de moda.
A novidade neste final de semana foi o lançamento, pelo PCdoB, da candidatura da deputada estadual Manuela D’Avilla a presidente da República. Com o gesto, o PCdoB, uma contrafação do PCB histórico de Luís Carlos Prestes, sinalizou claramente que está se descolando da tutela do Partido dos Trabalhadores, a quem se aliou desde a redemocratização de 1985 que assinalou o fim da ditadura militar. As versões indicam que o PCdoB resolveu investir em candidatura própria por avaliar que o PT está demorando demais a definir se o ex-presidente Lula será ou não candidato no próximo ano. E não há tempo a perder nem espaço vazio, porque as forças de centro-direita continuam ativas procurando substituto de Doria e cada vez mais sendo empurradas para o colo do militar “bunda suja” Jair Bolsonaro, tal como é tratado pela oficialidade de elite, conforme revelou “Veja” semanas atrás.
Lula tenta viabilizar a candidatura a todo custo, desafiando a própria legislação, uma vez que ele está condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro por corrupção passiva – e embora o caso não tenha transitado em julgado, fica uma aura de indefinição sobre Lula ser ou não postulante ao Planalto. Em relação a Dilma, os petistas nem mencionam o nome, imagine-se cogitar dele como alternativa para suceder a Lula em caso de impedimento. Dilma não merece confiança, é o “eterno poste” que Lula inaugurou na política, é detestada nas bases ortodoxas do PT e, no dizer do próprio Lula, traiu o eleitorado na questão do ajuste fiscal. O PT quer sair como grande beneficiário de uma revanche nas urnas, mas o mito Lula já não comove mais.
Abstraindo o fato de ser filiada a uma legenda comunista num país onde há fortes restrições ao comunismo por parte de segmentos menos avançados ou menos politizados da sociedade brasileira, Manuela D’Avila representa o novo sob todos os pontos de vista – e simboliza, também, a coerência, um elemento que pode inspirar confiança e motivação a eleitores dispostos a votar em branco ou anular seu voto nas eleições do próximo ano. A coerência está no fato de que, desde quando jovem vereadora em Porto Alegre, Manuela já pontificava no PCdoB. Ao mesmo tempo, ela passa sinceridade e conhecimento mínimo dos problemas gerais que afetam o Brasil.
As velhas cúpulas estão dando voltas em círculo para identificar ou localizar candidatura que tenha “frescor” para o eleitorado, do ponto de vista de transmitir jovialidade e, ao mesmo tempo, “timing” para enfrentar os desafios da presidência da República. Pois Manuela tem o tal “frescor” – injeta sangue novo na desgastada atividade política, tem capilaridade para atrair um expressivo contingente de indeciso de desiludidos com a política e os rumos que ela tomou no Brasil. Que Doria ou Luciano Huck que nada. Manuela pode ser a chave para os que estão órfãos de representatividade e buscam, de alguma formam influenciar no processo decisório.
Um outro significado da provável candidatura de Manuela D’Avila é simples: expressa que o PT, definitivamente, saiu de moda. Já não é mais a fonte inspiradora das esquerdas. Aliás, o fiasco das caravanas intentadas por Lula no Nordeste e em Minas Gerais demonstra o estado de exaustão com a pantomima petista,que prega moralidade com a mão e com a outra avança no erário público, saqueia recursos destinados a investimentos em programas sociais. Fato curioso, o presidente Michel Temer nem se anima a dizer-se candidato à reeleição porque tem consciência de que é o presidente mais desaprovado no ciclo democrático brasileiro. E o PT, que esperava surfar na onda do desgaste e da impopularidade de Temer, vem perdendo dia após dia suas bandeiras e, especialmente, a confiança da população. Pode dar Manuela na cabeça!
Nonato Guedes