Pode um demagogo ser presidente do Brasil? – indaga a publicação inglesa “Economist”, referindo-se ao histórico pouso lisonjeiro do deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato a presidente da República em 2018 pela sigla “Patriotas”. Bolsonaro é descrito como um político sem propostas e sem embasamento – acrescido do viés demagógico que pautaria propostas que ousa exibir. Na verdade, ele se lançou postulante num dos vácuos de liderança da conjuntura brasileira, o que se deu agora com o impeachment de Dilma Rousseff e com a ascensão de Michel Temer, este sequer sem condições de pleitear uma reeleição por insuficiência de votos.
Há demagogos aqui, no Brasil, como há demagogos no exterior. Demagogos e loucos. Nos Estados Unidos, por exemplo, exames de sanidade mental conduzidos por especialistas a pedido de órgãos de comunicação atestam a falta de pinos no juízo crítico do presidente Donald Trump, que se elegeu derrotando a senadora democrata Hillary Clinton. A obsessão de Trump é declarar guerra ao mundo, é exibir o tempo todo o suposto poder de fogo dos EUA, que já foi mais intenso. Certo, em alguns segmentos da sociedade norte-americana cogita-se a possibilidade de impeachment de Trump por causa do mal que ele representa. Mas, se isto acontecer, tudo será feito dentro das normas democráticas previstas pela Constituição.
O Brasil parece um celeiro apropriado para a proliferação de políticos demagogos, uma prática que remonta a velhas repúblicas aqui instauradas. Na década de 60 tivemos um demagogo cuja característica era renunciar – Jânio da Silva Quadros, que obteve votação estrondosa para a presidência da República e, pouco tempo depois, formalizou seu pedido de renúncia alegando ser impossível governar com o Congresso então existente. Na prática, Jânio, que ainda por cima fazia o gênero populista, renunciou ao cargo de presidente numa jogada ensaiada para retornar ao poder com mais poderes, ou seja, como uma espécie de ditadorzinho. A estratégia não surtiu o efeito esperado por Quadros. Seus adversários políticos recusaram-se a pôr em discussão em plenário a carta-renúncia, alegando que se tratava de um documento unilateral, portanto, irretratável e irrefutável. Jânio caiu em depressão mas não teve outra saída senão desembarcar em São Paulo e de lá partir para um cruzeiro com dona Eloá, tentando curar-se do porre cívico e da rematada ressaca de que estava acometido.
Mais recentemente o eleitorado brasileiro foi apresentado a outro demagogo de escol – Fernando Collor de Melo, eleito em 1998 com o emblema de caçador de marajás, assim identificados os funcionários detentores de altos salários no serviço público. Rigorosamente não houve tempo para que a cruzada moralizadora apregoada por Collor fosse cumprida. Ele sofreu um processo de impeachment em 1992, sob acusação de liderar o chamado esquema PC Farias, que misturava dinheiro público com dinheiro privado. Atualmente, Collor é senador por Alagoas. Não tem atuação profícua em plenário, mas voltou a frequentar páginas policiais, com denúncias ou acusações de escândalos. Ele foi qualificado, também, como “Indiana Jones brasileiro” por um dos presidentes Bush, dos Estados Unidos. Collor era um prestigiditador, um vendedor de mágicas ilusionistas.
Demagogos e lunáticos fazem um mal extraordinário ao poder porque ocasionam uma situação de instabilidade bastante comprometedora. O melhor antídoto para retirá-los de cena é pelo caminho da urna, que, como se sabe, tem o condão de pôr e depor. Fora daí, érezar muito – e, se não de resultado, tentar a solução prosaica que o impagável Nelson Rodrigues propunha: sentar no meio fio e chorar.
Nonato Guedes