Sentenciado em segunda instância, o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, já deveria estar atrás das grades, mas continua a dar as cartas no Partido dos Trabalhadores e, a partir do seu bunker no Lago Sul, em Brasília, tem agenda comparável a de um ministro de Estado. A revelação consta de matéria especial assinada por Ary Filgueira e publicada pela revista “ISTOÉ”. Ele acrescenta que o partido não dá um passo sem que Dirceu seja consultado. A nova orientação do petista é para que o partido se aproxime mais dos militares.
Dirceu já foi pivô, também, de bate-boca acalorado entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. A liberdade de Dirceu, de acordo com a reportagem, mexe com os ânimos de muita gente. Ele aguarda em liberdade o julgamento de recurso que apresentou, mas desde que deixou a prisão em maio vive recluso em Brasília pois não pode ser visto nas ruas. Isto não parece um problema para Dirceu, acostumado a viver na clandestinidade no regime militar. A Justiça impôs medidas restritivas a Dirceu e não chegou a proibi-lo de circular, mas o PT toma cuidados com a integridade do seu fundador, já que ele foi alvo de protestos desde o primeiro minuto em que saiu da cadeia em Curitiba. Em vez de lugares públicos, o petista prefere ambientes mais reservados, longe dos holofotes da mídia e dos olhares dos curiosos de plantão.
Zé Dirceu, como é chamado, passou dois anos atrás das grades. Hoje, sua rotina é mais favorável. Acorda cedo e costuma ter uma agenda recheada de audiências políticas. O endereço onde ele reside é desconhecido da maioria da militância petista e tratado com o máximo segredo pela cúpula nacional do PT. Somente os companheiros mais graduados e próximos do ex-ministro sabem onde ele fica. Zé Dirceu foi condenado tanto no Mensalão como na Lava Jato. A reportagem de ISTOÉ foi inteirada de que o domicílio de Zé situa-se no Lago Sul, um setor residencial nobre de Brasília. Seja como for, no bunker em que está alojado, Dirceu passa orientações aos companheiros de sua confiança. A residência é estrategicamente situada em uma área afastada do centro da capital e com acesso restrito. Dirceu vive lá com a mulher e a filha. As versões sinalizam, contudo, que há poucos momentos reservados para o convívio com os familiares. Quando não está absorto em leitura, geralmente composta por títulos de autores de esquerda, Dirceu recebe visitas, uma atrás da outra.
O ex-ministro também tem se comunicado com outros réus da Lava Jato. Um deles é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não há encontros pessoais, pois estão proibidos. Os recados são transmitidos por intermediários -geralmente assessores de parlamentares, como o deputado Chico Vigilante, do Distrito Federal. Aos amigos mais próximos Dirceu não esconde a mágoa com o também ex-ministro Antonio Palocci por ele ter tentado fechar acordo de delação como Ministério Público Federal. Sobre sua volta para a cadeia, Dirceu aparenta resignação. “Tenho conversado com ele eventualmente. Ele sabe que vai voltar à prisão. Mas está tranquilo, pois sabe que é uma condenação contra o PT”, afirma um amigo.
Nonato Guedes