A crise que vem se abatendo sobre o PSDB teve mais um capítulo de agravamento, ontem, com a decisão do senador Aécio Neves (MG) de destituir Tasso Jereissati (CE) da presidência interina da agremiação, sendo indicado para o posto o ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, que o ocupará até nove de dezembro, quando está programada a convenção nacional do partido. De acordo com as versões, Aécio, debaixo de pressão de ministros tucanos do governo Temer, foi pessoalmente ao gabinete de Tasso pedir que ele deixe o comando do partido, alegando que visava garantir isonomia na disputa pela presidência da sigla. Em resposta, ouviu do senador cearense que se quisesse sua saída teria de determiná-la. A conversa foi ríspida e se estendeu até o corredor.
Aécio, que passou um tempo afastado do exercício do mandato de senador por determinação do Supremo Tribunal Federal, é presidente licenciado do PSDB e Tasso havia sido investido no seu lugar. Aecistas acusam Tasso de utilizar a estrutura partidária para promover sua candidatura. Ressaltam como exemplo a publicação em destaque da notícia que o oficializa como postulante ao cargo na página oficial do PSDB. Além disso, estão descontentes com a postura “anti-Temer” que o tucano tem adotado. Mas a destituição já era esperada pela cúpula do partido. O novo presidente interino do PSDB garantiu que vai trabalhar pela unidade do partido. “A finalidade de um presidente como eu, que não sou candidato a nada, é exatamente manter a isonomia, o equilíbrio na disputa”, frisou.
Adversário de Tasso na disputa pela presidência do PSDB, o governador de Goiás, Marconi Perillo, afirmou que seria antiético e nem um pouco isonômico se o senador cearense permanecesse no posto, já que a máquina partidária poderia pender para o lado de quem estivesse no comando do partido. A mudança contrariou visivelmente o governador paulista Geraldo Alckmin. Pré-candidato a presidente da República, ele tem boa relação com Tasso, e ter a máquina partidária a seu favor é estratégico na consolidação do seu nome para 2018. “Eu não fui consultado. E, se fosse, teria sido contra, porque não contribui para a união do partido”, expressou o governador paulista. Aliado de Alckmin, o presidente do PSDB paulista, Pedro Tobias, chamou a destituição de Tasso de totalmente inoportuna, inconsequente e irresponsável. O prefeito de São Paulo, João Dporia, que tem em Goldman seu grande desafeto no ninho tucano, foi econômico. Disse que, dadas as circunstâncias, parece justa a saída de Tasso. O cearense assumiu interinamente o comando do partido em maio deste ano, após Aécio licenciar-se do cargo por ter sido gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário e delator Joesley Batista. O senador paraibano Cássio Cunha Lima disse receber a notícia com surpresa e manifestou a expectativa de que ela não tenha influência do governo. “Isso fortalece Tasso e o movimento que ele lidera”, comentou Cunha Lima.
Nonato Guedes, com Folhapress