É intrigante o clima de autofagia ou entredevoramento de facções que tomou conta do PSDB, agremiação que parecia em marcha batida para reconquistar espaços e, talvez, a própria presidência da República. Como lembrou apropriadamente o senador paraibano Cássio Cunha Lima, o PSDB vinha dando passos com vistas a melhorar a sua imagem, fazendo, inclusive, uma autocrítica na televisão sobre erros cometidos no passado. A expectativa era de que esse gesto fosse indicativo de uma depuração nas hostes da legenda,
De uma hora para outra, deu-se o estouro da boiada, com a ameaça de prisão e perda do mandato pelo senador Aécio Neves, mais tarde convertido em jagunço pela forma “manu militari” com que interveio na Executiva nacional e destituiu da presidência o senador Tasso Jereissati, até então empenhado em unificar as correntes e revitalizar a sigla. Disse-o bem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quando alertou para o risco de o tucanato virar linha auxiliar do PMDB, um partido que não sabe para onde vai e não se entende nem sobre a contratação de uma equipe de comunicação, que dirá de um projeto para o Brasil.
“O PSDB desses caras não é o meu PSDB”, enfatizou Tasso Jereissati, ao criticar o alinhamento de tucanos, a partir do próprio Aécio, ao governo do presidente Michel Temer, do PMDB. Que houve interferência de Temer nas hostes tucanas, não há a menor sombra de dúvida. O governo, ao pressentir o racha inevitável, cuidou de preservar os seus aliados fiéis ou remanescentes no ninho tucano – e valeu-se do senador Aécio Neves como emissário do triste ofício. Neves já havia jogado fora seu futuro político ao ser pilhado pedindo propina, sem falar em outras atitudes comprometedoras para o seu currículo político.
A colunista Dora Kramer, de Veja, numa comparação sobre situações análogas vividas pelo PSDB, pontuou que o partido ganhou a disputa ao Planalto duas vezes no primeiro turno e ficou em segundo lugar nos quatro pleitos subsequentes. No último, em 2014, não ganhou por um triz. Os três políticos mais do que conhecidos nacionalmente, inclusive porque foram candidatos a presidente da República ostentam, atualmente, baixos índices de intenção de voto. São eles: José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Não obstante esses apuros, o PSDB ainda era avaliado como alternativa competitiva para as eleições presidenciais de 2018. Hoje não é mais. Engolfado por crises éticas, morais e políticas, o partido também é vilipendiado pela voz rouca das ruas, sobretudo aquela parcela que caiu na besteira de dar um cheque em branco ao tucanato.
Quando se diz que as eleições de 2018 serão atípicas, leva-se em conta o fato de que o PT desmilinguiu-se na esteira de escândalos e de prisões de líderes nacionais ou de próceres que pareciam ser homens dignos e cidadãos respeitáveis. A lógica, se é que há lógica em política, era a de que o PSDB, por via de consequência, se beneficiasse do vácuo erigido em torno do PT. O enredo, no entanto, foi outro, completamente diferente. O PSDB acabou nivelado a outras agremiações postas m desgraça. Diz Dora Kramer: “O PSDB não teve outro jeito a não ser voltar ao muro, desta vez num Brasil polarizado e, portanto, exigente no quesito clareza de posições. Foi tortuoso para fora e belicoso para dentro. Partido em briga consigo e com o eleitor nem por milagre ganha a eleição”. Assino embaixo.
Nonato Guedes