Os 128 anos da Proclamação da República do Brasil são celebrados hoje com a transferência simbólica da Capital federal de Brasília para a cidade de Itu, no interior de São Paulo. Nascida de um golpe militar que derrubou o Segundo Império, a 15 de novembro de 1889, a República não empolgou brasileiros quando da proclamação em si, da mesma forma como hoje, em Itu, a população parece indiferente à homenagem simbólica e à presença do presidente Temer. Na definição do cronista Aristides Lobo, que entrou para a história, “o povo assistiu bestificado à proclamação da República” que entronizou o marechal Deodoro da Fonseca na cadeira até então ocupada pelo imperador Dom Pedro II. Não houve derramamento de sangue e em todo o período desde a proclamação, a República oscilou entre períodos conturbados de revoltas, golpes, contra-golpes e momentos democráticos.
Pelo menos dois presidentes da República sofreram impeachment, acusados de irregularidades administrativas – Fernando Collor de Melo em 1992 (ele foi o mais jovem presidente) e Dilma Vana Rousseff, em 2016, a primeira mulher a ascender à suprema magistratura da Nação e também a primeira a ser afastada. O presidente Michel Temer, natural do interior paulista, é, disparado, o governante mais impopular da história do país. Mantém-se no cargo à custa de uma base política que transformou o governo em semiparlamentarista e que exige um preço muito alto, em termos de cargos e vantagens, para sustentar a coalizão. Esta semana, porém, uma ala influente do PSDB, partido que ainda integra a coalizão, desembarcou do governo com o pedido de exoneração do ministro das Cidades, Bruno Araújo. Michel Temer, contudo, já escapou de ser investigado por denúncias de propina, valendo-se da sua base para sepultar processos que chegaram a tramitar na Câmara Federal.
A visita de Temer a Itu, segundo a Folhapress, deve-se ao empresário e ex-vice-presidente da Fiesp, José Eduardo Bandeira de Mello, 78 anos, amigo do presidente há mais de 50 anos. Os dois foram sócios num escritório de advocacia no começo dos anos 60. Há poucos dias, Bandeira de Mello disse a Temer que iria receber agora o título de Cidadão Ituano e que gostaria de sua presença na cerimônia. O presidente evoluiu, então, para a proposta de prestar uma homenagem simbólica a Itu, transformando-a, por um dia, em Capital Federal. O taxista Lairrton Longui, que atua em Itu, afirmou a jornalistas que o simbolismo não causa forte impressão na cidade. E indagou: “Vai mudar alguma coisa para a cidade? O que ocorrerá é que vão gastar uma nota nessa operação, que só irá mesmo atrapalhar a vida de quem vai trabalhar no feriado. As ruas ficarão interditadas, será um aos”.
Até a tarde de ontem não havia qualquer símbolo indicando a passagem da comitiva presidencial por Itu – era notória a ausência de faixas de boas-vindas ou de qualquer estrutura nas ruas para a recepção ao presidente Temer. O prefeito da cidade, Guilherme Gazzola, do PTB, comentou que não houve tempo para a divulgação ou preparativos. “Nós fomos pegos de surpresa, mas é claro que é uma ótima surpresa”, pondera. O presidente tem preocupações mais urgentes a colocar em pauta, como a minirreforma ministerial decorrente do desembarque de partidos aliados do seu governo. Integrantes do chamado “Centrão” forraram a mesa presidencial de indicações e sugestões de nomes para ministérios que até então têm estado sob o controle do PSDB. Temer já barrou nomes. Avisou aos partidos que não quer ministro-candidato para não ser obrigado a fazer nova reforma em abril, prazo para desincompatibilização de quem vai disputar a eleição. O presidente pretende conversar com dirigentes e líderes partidários até a semana que vem para deliberar composições.
Nonato Guedes, com agências