O PMDB vai ironizar no começo desta semana, em mais uma peça da série “O Brasil segue em frente”, em rede nacional de televisão, a “saudação” que a ex-presidente Dilma Rousseff fez à mandioca como uma grande conquista do país, incentivada no seu governo. A proposta levada ao presidente Michel Temer pelo publicitário Elsinho Mouco, que vem coordenando as inserções televisivas promocionais do PMDB e do atual governo, foi aprovada em reuniões feitas nas últimas horas em Brasília, diante do convencimento de que é necessário mostrar o “despreparo” da ex-presidente para conduzir os destinos do Brasil.
A utilização por Dilma, quando presidente, de frases sem pé nem cabeça e o jorro de informações incompreensíveis, mais o fato de que ela governaria ainda pior do que falava, foram explorados pelo jornalista Celso Arnaldo Araújo no livro “Dilmês – O Idioma da Mulher Sapiens”. Em 23 de junho de 2015, na abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, no estádio Mané Garrincha em Brasília, o “dilmês” experimentou um dos seus piores/melhores momentos, arrasando instantaneamente nas sociais, conforme o relato de Celso Araújo. Ele transcreve a íntegra da fala em que Dilma fez a apologia da mandioca.
“Eu acredito que é necessário que nós tenhamos muito orgulho da formação histórica deste país, para além do fato que cada povo indígena representa uma cultura especial, nós temos de ter um imenso orgulho de, na composição da nação brasileira, nós sermos uma mistura de várias etnias. E aqui, hoje, nós estamos saudando uma delas: nós estamos saudando a etnia indígena, que trouxe para nós não só, como disse aqui, muito bem, a nossa vice-governadora, representando o governador – o sabor dos nomes que estão em todas as nossas cidades, de fato,mas, também eu queria saudar, porque nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação. E aqui nós temos uma como também os índios e os indígenas americanos têm a deles, nós temos a mandioca. E aqui nós tamos comungando a mandioca com o milho. E, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil”.
Celso Araújo ironiza, no seu livro: “Nelson Rodrigues, outra vítima preferencial do dilmês,talvez classificasse a saudação à mandioca como uma patuscada inverossímil da cabeça aos sapatos ou às sandálias. A plateia presente, amestradíssima, endossou a maluquice com risos e aplausos. Mas a nobre mandioca era só o começo de uma viagem delirante pelo universo baldio do dilmês. Com um estranho objeto toscamente esférico na mão esquerda, que mais tarde se descobriria ser uma bolade folha de bananeira fabricada por indígenas, a presidente tentava explicar que diabo era aquilo. Textualmente, Dilma afirmou: “Eu tenho certeza, e aqui eu queria mostrar o que é nossa relação antiga com o esporte. Aqui tem uma bola que eu passei o tempo inteiro testando. É uma bolaque é uma bola que o Terena me presenteou e que eu vou levar – e ela vem de longe, ela vem da Nova Zelândia. E é uma bola que eu acho que é um exemplo, ela é extremamente leve. Eu já testei e e laquica. Ela faz uma embaixadinha, minto, uma meia embaixadinha. Bom, mas eu acho que a importância da bola é justamente essa, o símbolo da capacidade que nos distingue como…nós somos do gênero humano,da espécie sapiens. Somos aqueles que têm capacidade de jogar, de brincar. Porque jogar é isso aqui: o importante não é ganhar, e sim celebrar. Isso que é a capacidade humana, lúdica, de ter uma atividade cujo fim é ele mesmo, a própria atividade. Então, para mim, essa bola é um símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas nós nos transformamos em Homo sapiens ou mulheres sapiens”.
O programa do PMDB, a partir de citações de raciocínios malucos e desconexos de Dilma, procurará mostrar que a presidente alvo de um processo de impeachment sob acusação de pedaladas fiscais apontadas pelo Tribunal de Contas da União era, também, uma figura absolutamente despreparada para governar um país das dimensões do Brasil e para se comunicar com o seu próprio povo a respeito das questões mais prementes. Ao ser consultado sobre o tom dos próximos programas do PMDB, o presidente Michel Temer deu aval observando que “a farsa de Dilma e do PT precisa ser desmoralizada definitivamente”.
Nonato Guedes, com “Folha de São Paulo”