Figuras que são neófitas em política e que somente agora estão chegando a esse complexo e ao mesmo tempo fascinante universo estão atordoadas com o vai-e-vem da corrida presidencial para o próximo ano, apurado em pesquisas distintas sobre intenções de votos de variados institutos e diferentes organizações. Falta-lhes o conhecimento mínimo para que possam ler ou interpretar corretamente os números apontados e a sinalização que está por trás das primeiras reações no confronto com nomes e até partidos desconhecidos, senão total, pelo menos parcialmente.
Tome-se o caso do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), pela primeira vez eleito a um cargo público – naturalmente, um dos mais importantes na América Latina. Elegeu-se no vácuo da descrença generalizada com a classe política e os partidos, inesperadamente transladados para o noticiário policial em meio a prisões, depoimentos e condenações por envolvimento com recebimento de propinas, tráfico de influência e corrupção. Doria foi, na campanha municipal de 2016, uma espécie de “outsider”, essa figura que está proliferando em larga escala no cenário de poder nacional. Concorreu contra o prefeito eleito pelo PT, Fernando Haddad, que testava o potencial do seu partido e o dele próprio depois das mutações verificadas. E o resultado é que Doria, até então jejuno na disputa de mandatos, foi bafejado no primeiro turno, liquidando a fatura sem precisar ir para a desgastante rodada decisiva.
O mesmo se deu com Marcelo Crivella, este já afeito ao universo político mas ainda ostentando a aura de pastor evangélico, que se impôs como preferido do eleitorado do Rio de Janeiro de cara, também no primeiro turno. Pergunta-se como está o desempenho dos dois – Doria e Crivella. O fato concreto é que estão tendo um desempenho pífio, sem grandes inovações. Sobrevivem na mídia mais pelos factóides que produzem do que pelas realizações que colocam em prática. Não chegaram a comprometer nas suas gestões até agora a qualidade de vida de paulistas e fluminenses, mas também não implementaram novidades ou avanços com algum tipo de impacto na consciência cidadã das pessoas que habitam as duas Capitais,espécie de tambores nacionais. Aquelas expectativas do “diferente”, do “novo”, não despontaram tal qual se esperava. Aqui e acolá, há uma diferençazinha de marca, de estilo, mas nada de mudança essencial. O que tem havido é alteração cosmética.
Pelo menos em relação a João Doria ele não deverá ter tempo de se testar numa reeleição à prefeitura de São Paulo. Já anda fazendo planos para a disputa de 2018, ora para a presidência da República, ora para o governo de São Paulo. Vão se juntar, no próximo ano, a figuras igualmente desconhecidas no campo político como o apresentador Luciano Hulk, da Globo e outros “outsiders” que estão aparecendo quem vias de aparecer. Claro,haverá um Bolsonaro no páreo, talvez o ex-presidente Lula, se a Justiça for benigna com ele – mas a marca predominante deverá ser essa mesma, traduzida no novo, seja lá o que isso represente. A circunstância de que os próprios neopolíticos estão atordoados com a sinalização do eleitor é muito mais grave do que ambições pessoais, porque demonstra que estamos lidando com despreparados, que não têm a menor ideia do que podem fazer se o governo do país lhes cair aos colos. Temos uma geração de eleitores revoltados que faz par com uma geração de políticos desinformados. É nitroglicerina pura, em se tratando da sorte do País. Infelizmente, esse é o cenário.
Nonato Guedes