Sou leitor de livros, coletâneas e textos variados da lavra de Ruy Castro, jornalista e escritor que está completando 50 anos de carreira jornalística – faz 70 anos de idade em 2018. Foi em maio de 1967 que saiu em jornal sua primeira reportagem assinada: uma homenagem ao compositor Noel Rosa nos 30 anos de sua morte. Numa entrevista que a”Istoé” publicou na edição recente, Ruy abre o verbo para dizer algumas verdades que precisam ser ditas nestes tempos de patrulhamento e de Bolsonaros.
Ele conta que se desiludiu da política muito cedo, e o último político em quem votou foi Mário Covas para presidente da República em 1989. “Depois, não votei mais em ninguém. Porque não acredito mais em ninguém. Eu me inoculei de política em Lisboa durante a Revolução dos Cravos. Eu estava lá em 25 de abril de 1974,quando a derrubada da ditadura causou euforia. Todos pareciam acreditar em um futuro de liberdade. Poucos dias depois, porém, o Partido Socialista passou a perseguir os adversários usando os arquivos secretos de Salazar. Ver o golpismo da esquerda é a receita para você não acreditar em mais nada”, narra ele. E ao ser indagado se é perseguido pela esquerda no Brasil, reage: “Tem leitor que me acusa de ter ajudado a depôr Dilma e colocado Temer no poder em minhas colunas. Respondo que quem colocou o Temer no Planalto não fui eu, e, sim, Lula e Dilma”.
Ruy Castro trabalhou em muitos veículos. “Correio da Manhã”, “O Pasquim”, “Manchete”, “IstoÉ”, “Playboy”, “Status”, “Veja”, “O Estado de São Paulo”. Parou de trabalhar em redação em dezembro de 1986, quando deixou a “Veja São Paulo”. Decidiu escrever livros. E assina coluna três vezes por semana na Folha de São Paulo, sobre todos os assuntos. Indagado sobre como vê a guerra cultural nas redes sociais, com manifestações contra a arte, Ruy Castro é categórico: “A intolerância não ocorre só no Brasil. Ela se espalha pelas redes sociais. Qualquer um se sente na posição de dizer o que quer. A mentalidade do politicamente correto se disseminou”. Para quem ama o Rio como ele, constatar a decadência política, social e econômica chega a ser deprimente.
A esse respeito, comenta Ruy Castro: “Hoje assistimos à corrupção total das instituições do Rio, a começar por seus governantes e políticos, e tudo ficou pior quando Lula e Dilma apoiaram Sérgio Cabral e sua turma para “desenvolver o Rio”. Isso foi desastroso. A nova decadência do Rio começou quando deixou de ser Distrito Federal e passou a fazer parte de um estado pobre. Vieram governadores como Moreira Franco, Brizola, Garotinho e Rosinha Matheus, culminando com Cabral e a atual acefalia. Mas o Rio continua sendo um lugar agradável para viver. Ele está em quadragésimo lugar em índice de violência. Há estabelecimentos tradicionais fechando as portas. Mas agora está decadente, talvez porque os jovens não queiram mais comer abacaxi. As coisas se renovam, inclusive a decadência”.
Ruy Castro mantém-se lúcido e iconoclasta. E opinando. O que podemos querer mais? Como ele próprio observa, o Rio de Janeiro entrou em decadência com o Estácio de Sá, que foi governador-geral. O Rio é decadente, portanto,há 500 anos. É por reescrever, como ele diz, verdades assim, que Ruy Castro tem público. Há nele a percepção sagaz dos absurdos que acometem o Brasil. E diante dos quais, como dizia a música, “a gente vai levando…” Porque fazer isso é preciso. Ou melhor: é o que nos resta.
Nonato Guedes