No momento em que a Receita Federal aperta o cerco sobre quem declara altas somas de dinheiro em espécie, um levantamento da revista “Istoé” revela quem são os parlamentares que guardam verdadeiras fortunas em casa. Entre os senadores da safra 2014, somente dois declararam guardar valores em espécie na residência: Acir Gurgacz, do PDT-RO, que mantinha R$ 500 mil, e José Maranhão (PMDB-PB) que dispunha de R$ 398 mil, segundo matéria assinada por Tábata Viapina, referindo-se ao caso do ex-deputado Geddel Vieira Lima, que mantinha em um apartamento em Salvador malas com mais de 50 milhões.
O levantamento da revista foi com base nas declarações de bens de deputados federais das principais bancadas e dos 27 senadores eleitos em 2014. As seis maiores bancadas, por estado, possuem 269 deputados. São elas: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Do total, 25 deputados declararam à Justiça Eleitoral em 2014 terem mais de R$ 300 mil em espécie. Chamam atenção os valores milionários mantidos dentro dos portões de suas residências pelos deputados Fernando Torres (PSD-BA) com R$ 3.234.256,82, Leonardo Quintão (PMDB-MG) com R$ 2,6 milhões, Misael Varella (DEM-MG) com R$ 1.374.191,69 e João Bacelar (PR-BA) com R$ 1,2 milhão. Em geral, a justificativa dada aos curiosos é a proximidade de compromissos financeiros de ordem pessoal, daí a necessária liquidez.
O campeão de recursos guardados em casa pertence à bancada de Pernambuco – é o deputado Marinaldo Rosendo(PSB), que declarou ter R$ 3,82 milhões. Em agosto desse ano, Marinaldo teve as contas de sua gestão à frente da prefeitura de Timbaúba rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado por três votos a zero. Foi acusado de irregularidades na compra de material escolar e no repasse de recursos de empréstimos consignados aos servidores. De família tradicional mineira, o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB), que está no décimo mandato consecutivo, possuía, em 2014, R$ 950 mil em dinheiro vivo. Ele foi o relator da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e proferiu parecer pela rejeição do caso, originário da Procuradoria-Geral da República.
O deputado Nelson Meurer (PP-PR) é réu da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, acusado de receber propinas de R$ 29 milhões entre 2006 e 2014. Apontado como um dos líderes do quadrilhão do PP, Meurer declarou ao TSE uma quantia de R$ 762.360 mil em espécie. O processo contra ele na Lava Jato está na reta final e o julgamento será marcado em breve. Outros paranaenses com fortunas em casa são Luiz Nishimori (PR), que possui R$ 800 mil e Osmar Bertoldi (DEM) com R$ 700 mil. Em São Paulo, a curiosidade é que Paulo Maluf não aparece na lista. O ex-governador declarou ao TSE um patrimônio de R$ 39 milhões composto de imóveis, terrenos, ações, aplicações de renda fixa e fundo de investimento. Mas não tem reserva financeira em casa. Os principais destaques de São Paulo no quesito dinheiro vão para os deputados Ricardo Izar (PSD), de R$ 800 mil, e Ricardo Trípoli, do PSDB, num total de R$ 742 mil. Bruna Furlan (PSDB), que em 2010 tornou-se a deputada federal mais votada de São Paulo e é filha do prefeito de Barueri, Rubens Furlan, declarou guardar R$ 300 mil em casa.
A reportagem da “Istoé” mostra que a Receita Federal, de olho nos desvios, acaba de adotar uma medida que torna obrigatória a comunicação de operações que envolvam dinheiro em espécie em valor igual ou superior a R$ 30 mil. Com a medida, o governo espera lacrar uma porta que ainda estava aberta à corrupção, à sonegação e à lavagem de dinheiro. Daqui em diante, até será possível guardar em casa dinheiro amealhado ilegalmente, mas será muito mais difícil fazer uso da propina. Na prática, a Receita quer saber quem compra imóveis, carros, joias, quadros e outros bens com dinheiro vivo, uma das ferramentas mais comuns da lavagem de dinheiro. Ou seja, a partir de agora, os políticos que lançam mão desse expediente deverão ter mais cuidado. A “Istoé” conclui: “Será quase impossível movimentar dinheiro vivo sem chamar atenção das autoridades. Guardar dinheiro embaixo do colchão deixará de ser uma prática tão vantajosa, passando a ser arriscada. O Leão está com os dentes afiados”.
Por Nonato Guedes