O vereador Bruno Farias (PPS), com atuação na Câmara Municipal de João Pessoa, vê semelhanças entre a disputa presidencial de 1989 com a disputa que vai ser travada em 2018 e faz uma revelação: quem inviabilizou a candidatura do apresentador e dono do SBT Sílvio Santos ao Planalto foi o jovem Eduardo Cunha, do PMDB, que integrava a tropa de choque de Collor e ganhou como compensação o comando da Telerj no Estado do Rio. Eduardo Cunha está preso, implicado na operação Lava Jato, perdeu o mandato de deputado federal e foi destituído da presidência da Câmara dos Deputados. Ele foi acusado pela ex-presidente Dilma Roussef de ter manobrado para seu impeachment.
Em circunstanciada análise que escreveu para o semanário “Contraponto”, de João Pessoa, Bruno Farias, que é presidente municipal do PPS, relata que Cunha foi incumbido por Collor de recolher provas sobre a legalização do PMB, legenda de aluguel oferecida ao dono do SBT por Armando Corrêa para dar respaldo à sua candidatura. Sílvio Santos registrou chapa tendo como vice o senador paraibano Marcondes Gadelha, que era do PFL, mas houve intenso bombardeio por parte da Rede Globo, de alguns caciques políticos como Antônio Carlos Magalhães, da Bahia, e de Collor, que liderava pesquisas deopinião pública e sentiu-se ameaçado pela penetração de Sílvio Santos nas camadas de baixa renda.
Eduardo Cunha foi escalado para certificar, nos vários Estados brasileiros, se o PMB havia cumprido exigências legais para referendar o nome do candidato a presidente da República. Ao colher certidões dos TREs estaduais, Eduardo Cunha constatou que o PMB só havia feito quatro convenções quando a lei exigia nove a fim de oficializar o registro de chapas. Em razão desse deslize, o Tribunal Superior Eleitoral impugnou a candidatura de Sílvio Santos e do seu vice Marcondes Gadelha. A disputa final foi para o segundo turno, polarizada entre Collor, que havia feito fama como “caçador de marajás” (funcionários públicos que ganhavam altos salários) à frente do governo de Alagoas e Luiz Inácio Lula da Silva, que despontava como líder metalúrgico no ABC paulista e surpreendeu o país criando o Partido dos Trabalhadores, experiência absolutamente inédita até então. Do pleito de 89, participaram figuras exponenciais como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, MárioCovas, ureliano Chaves, Affonso Camargo, Roberto Freire, Afif Domingos, o médico Enéias Carneiro e os que foram para o embate decisivo – Collor e Lula. Enéias chegou a ter mais votos do que Ulysses numa campanha inteiramente atípica.
Uma das semelhanças que o vereador Bruno Farias enxerga é a polarização entre supostos representantes de esquerda e de direita no espectro político nacional. Em 89, Collor simbolizava os interesses da direita, embora tenha feito campanha midiáttica dirigida aos trabalhadores. Lula representava facções da esquerda, diluídas por agremiações que não lograram chegar ao segundo turno. Foi a primeira eleição presidencial direta depois da ditadura militar. Aludindoà conjuntura atual, Bruno Farias considera que Lula e Jair Bolsonaro, do partido Patriota, simbolizariam esquerda e direita a dados de hoje, com perspectiva de lançamento de um candidato do centro. A retirada da candidatura do apresentador de televisão Luciano Huck, da Rede Globo, conforme o vereador, pode abrir espaço para a candidatura do professor Cristovam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília e figura admirada nos círculos intelectuais, políticos e do poder, tendo sido ministro da Educação e sido eleito ao Senado. Ele conclui a sua análise fazendo uma convocatória: “Que venha 2018 e que o PPS erga a taça da Copa, ou melhor,vista a faixa presidencial”.
Nonato Guedes