A expectativa de peemedebistas paraibanos quanto ao controle da prefeitura de João Pessoa, com a possível investidura do vice-prefeito Manoel Júnior caso o prefeito Luciano Cartaxo (PSD) se desincompatibilize para disputar o Governo do Estado em 2018, tem a ver com uma escrita que incomoda o partido presidido pelo senador José Maranhão: há cerca de trés décadas o peemedebismo está longe da chave do cofre municipal na principal cidade do Estado. A última vez em que o PMDB teve o prefeito de João Pessoa foi com o médico Antônio Carneiro Arnaud, eleito em 1985 para um mandato que se estendeu apenas até 1988. A nível nacional havia um processo de transição, com a substituição da ditadura militar por um governo civil. Tancredo Neves foi escolhido por via indireta no colégio eleitoral, com o compromisso de restaurar as diretas. Enfrentou graves problemas de saúde e ficou impossibilitado de assumir a presidência, pois faleceu em Brasília, vítima de diverticulite aguda e septicemia generalizada. No lugar de Tancredo, ascendeu à presidência o vice José Sarney, que era egresso da Arena, partido de sustentação do regime militar, do qual discrepou nos seus estertores, liderando dissidência que garantiu votos para a chapa vitoriosa contra Paulo Maluf.
Carneiro Arnaud, que foi deputado federal e abandonou a política, dedicando-se hoje a atividades profissionais como médico e como presidente da Fundação Napoleão Laureano, ponta-de-lança de campanhas para combate ao câncer, foi candidato, em 85, de um acordo patrocinado pelo governador Wilson Leite Braga(PDS), cujo esquema indicou para vice de Carneiro o ex-vereador João Cabral Batista, conhecido pelo estilo populista e pela atuação em bairros populosos de João Pessoa. A chapa teve como principal adversário o então deputado estadual Marcus Odilon Ribeiro Coutinho(PTB), apoiado pelo deputado federal e ex-governador Tarcísio Burity. O vice de Odilon foi o médico Gilvan Navarro, cunhado de Burity e ex-secretário de Saúde do Estado. A vitória da chapa Carneiro-Cabral deu-se por cerca de 10 mil votos de diferença, o que foi considerada “uma vitória de Pirro”, já que tinha o apoio de três máquinas – a do governo federal, governo estadual e governo municipal.
Wilson sonhava com um desdobramento da aliança na Capital para todo o Estado, na campanha de 1986, com o apoio do seu esquema ao senador Humberto Lucena. Por problemas de saúde, que o levaram a ser internado em São Paulo, Humberto abriu mão da candidatura ao governo e o PMDB acolheu em seus quadros o deputado federal Tarcísio Burity,que disputou o governo tendo como vice o deputado por Campina Grande Raymundo Asfora. O esquema governista e de Wilson deu voltas em círculo para forjar uma alternativa. O vice-governador José Carlos da Silva renunciou, junto com Braga, para ser candidato ao governo, mas em poucas semanas preparou uma carta desistindo da postulação e viajando para o exterior. José Carlos era alvo de pressão para bancar financeiramente a campanha do esquema braguista-governista. Desabafou, numa reunião,que não era trem-pagador. E sentiu-se abandonado e isolado no palanque por Braga durante um evento na cidade de Cajazeiras, no Alto Sertão paraibano. Foi substituído às pressas pelo senador Marcondes Gadelha. Beneficiário, ainda, do Plano Cruzado, lançado por Sarney, o candidato Tarcísio Burity derrotou Gadelha por 298 mil votos de maioria. Wilson Braga foi derrotado ao Senado. De lá para cá, o PMDB tem vivido à sombra de outros partidos. Mais recentemente lançou José Maranhão à prefeitura, mas ele não logrou ir sequer para o segundo turno. Daí a expectativa concentrada nas chances de Manoel Júnior. Em 96, Cícero Lucena, que provinha do PMDB, foi eleito e reeleito em 2000 à prefeitura da Capital. Os peemedebistas não se sentiram no poder com Cícero, dadas as suas ligações estreitas com o grupo Cunha Lima, que o fizeram migrar para o PSDB, onde até hoje permanece filiado, embora sem mandato.
Nonato Guedes