Líderes do PT paraibano e aliados do governador Ricardo Coutinho (PSB) estão abrindo com antecedência o que chamam, nas conversas “em off”, de temporada de caça ao senador Cássio Cunha Lima, do PSDB. O objetivo é derrotar Cássio na batalha para ser reconduzido ao Senado – os petistas não perdoam Cunha Lima por ter votado pelo impeachment de Dilma Rousseff e sustentar ataques à agremiação e os ricardistas, que já foram aliados de Cássio, não o perdoam pela oposição feroz ao governo do Estado. Dizem, nos bastidores, que são capazes de montar rolo compressor para “esmagar” Cássio nas urnas.
A ameaça de queimação contra Cássio já produziu faíscas entre os adversários. O presidente da Executiva estadual do PT, Jackson Macêdo, numa entrevista, confirmou que a prioridade dos petistas é infligir derrota a Cássio por considerarem que ele agiu ao lado dos “golpistas” no impeachment de Dilma. O presidente estadual do PSDB, Ruy Carneiro, ex-deputado federal, alertou que Macêdo inverte a lógica: ao invés de pugnar pela eleição de candidatos petistas, está obcecado em tentar derrotar Cássio, apesar de nunca ter sido testado em embates eleitorais majoritários ou de fôlego.
No primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as relações entre ele e o então governador da Paraíba Cássio Cunha Lima chegaram a ser amistosas ou cordiais. Cássio tinha crédito na cúpula nacional do PT por ter bancado, em Campina Grande, uma aliança com o PT que permitiu a ascensão de sua vice Cozete Barbosa quando ele renunciou para postular outro mandato. Os petistas paraibanos advertem que Cássio deixou uma herança maldita para Cozete e um “presente de grego” para o PT na Paraíba. Ainda assim, o então presidente Lula cortejou Cássio, chegando a recebê-lo para conversa informal no cinema do Palácio do Planalto. Cunha Lima fez-se acompanhar na sessão pelo falecido superintendente do Sebrae, Júlio Rafael, que era amigo pessoal do governador e tinha interlocução com o governo do presidente Lula.
A política de “boa vizinhança” não evoluiu para um alinhamento maior entre Cássio e os petistas. No processo de impeachment de Dilma, o senador tucano paraibano esteve na linha de frente de denúncias contra o PT e o governo de Dilma Rousseff, juntamente com Aécio Neves, que fora derrotado por Rousseff em 2014. Fazia coro a Cássio nesse fogo cruzado contra o petismo seu filho, o jovem deputado federal Pedro Cunha Lima, que disse defender princípios éticos ao se indispor com a figura da presidente e com o seu governo. Eleito governador por duas vezes, tendo sido afastado no final do segundo mandato, mediante ação judicial de adversários, Cássio se elegeu senador em 2010 com mais de hum milhão de votos.Demorou dez meses a assumir, por ter sido alcançado pela Lei da Ficha Limpa. Nesse período ascendeu o peemedebista Wilson Santiago, que havia concorrido pelo PTB e obtivera expressiva votação ao Senado. Cássio fez gestões para assumir o mandato que havia conquistado e tratou Wilson como usurpador, até que a Mesa do Senado resolveu investi-lo, consultando o Supremo Tribunal Federal. O mandato do parlamentar expira a primeiro de janeiro de 2019 – e o nome de Cássio voltou a ser cogitado para disputar o governo, mas ele optou por se candidatar à reeleição ao Senado.
Nonato Guedes