Aprovar a reforma da Previdência, a mais indigesta de todas as que o governo de Michel Temer vem propondo, é questão de honra para o presidente da República, que mira na chamada base aliada para assegurar votos necessários a um resultado promissor. A contagem de votos sobre os fiéis e infiéis começa pelo próprio PMDB, partido do presidente que sucedeu a Dilma Rousseff no impeachment desta. E um parlamentar que volta a ficar na berlinda é o deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, com atuação a partir de Campina Grande.
Veneziano já sentiu o peso da punição disciplinar imposta pela cúpula partidária quando desobedeceu à orientação que fora emanada no sentido de votar pelo arquivamento de processo de investigação do presidente Temer, expedido pela Procuradoria Geral da República a pretexto de passar a limpo denúncias de corrupção passiva. Rêgo votou pelo prosseguimento da ação de investigação, alegando que se tratava de uma oportunidade para que Temer demonstrasse absoluta transparência em relação aos seus atos ou ao seu comportamento no exercício da primeira magistratura da Nação. Como o presidente está pouco interessado nesses preciosismos de caráter ético, deu sinal verde para que o deputado paraibano entrasse no índex.
A consequência mais imediata da punição perpetrada contra Veneziano foi o seu afastamento de qualquer participação em atos administrativos inerentes à cúpula nacional peemedebista, o que passou a impressão de desconfiança quanto às atitudes de Veneziano. Os senadores José Maranhão e Raimundo Lira, da bancada peemedebista paraibana em Brasília, ainda tentaram demover a cúpula nacional da punição aplicada ao deputado por Campina Grande, sob o pretexto de que teria sido uma represália dura e, ao mesmo tempo, um desrespeito à liberdade de expressão, ponto que o PMDB cultivou como dogma nos tempos em que era comandado pelo doutor Ulysses Guimarães, o Senhor-Diretas ou o Senhor-Constituinte, como era qualificado. A atual cúpula peemedebista fez de conta que não ouviu os apelos dos que intercederam por Veneziano.
Agora, o líder da bancada peemedebista na Câmara Federal, Baleia Rossi, de São Paulo, bastante ligado ao grupo do presidente Michel Temer, avisou que a liderança vai fechar questão em favor da aprovação da reforma da Previdência. A bancada peemedebista paraibana conta com três deputados federais – além de Veneziano, AndréAmaral e Hugo Motta. No caso específico de Veneziano, ele já vinha acumulando queixas da cúpula estadual, supostamente por não ter tido apoio logístico para levar à frente o projeto de candidatura a governador em 2014. Na época, Veneziano desistiu da empreitada, que foi assumida pelo irmão Vital do Rêgo, por honra da firma, enquanto ele buscou salvar-se disputando a deputação federal. Rêgo parece ter intuído que no horóscopo peemedebista não há espaço para uma candidatura sua a governador, o que o motiva, naturalmente, a cortejar outras legendas onde possa ser recepcionado, senão de forma principesca, pelo menos de forma mais calorosa.
Há partidos disponíveis, sim, para acomodar Veneziano Vital em suas fileiras, a partir do próprio PSB que é liderado pelo governador Ricardo Coutinho de forma personalista. O que não há é certeza concreta de que nesses partidos o ex-prefeito de Campina Grande venha a ser ungido candidato a governador. Até prova em contrário, o PSB está fechado com a candidatura do secretário João Azevedo, da Infraestrutura e dos Recursos Hídricos. Veneziano ganharia apenas a vantagem da zona de conforto se migrasse para o PSB, deixando de viver o suplício de Tântalo a que é acometido dentro do PMDB. No fundo, no fundo, há quem diga que a ascensão de “Vené” como governador não está escrito nas estrelas. Como mortais comuns não dispõem de bola de cristal, ficam na contingência de aguardar os acontecimentos, tenham eles os desígnios que tiverem daqui para frente. No caso da reforma da Previdência, se a cúpula peemedebista jogar duro, melhor para Veneziano será sair da legenda antes que sobrevenha um desgastante processo de expulsão. É o que se diz nas rodas políticas paraibanas e também em Brasília.
Nonato Guedes