Os jornalistas Gonzaga Rodrigues, Nonato Guedes e Antonio David participaram, ontem, de uma entrevista gravada na Academia Paraibana de Letras e mediada pela jornalista Cláudia Carvalho, que será exibida pela TV Assembleia, da Assembleia Legislativa, como parte do trabalho de resgate de valores da história do Estado. Dividida em blocos, a entrevista tratou dos bastidores do jornalismo na Paraíba nas diferentes fases, desde o linotipo ao off-sett, passando pela atual revolução tecnológica que incorpora redes sociais e mídias digitais ao impresso.
A proposta do programa especial, de acordo com Cláudia Carvalho, foi a de reunir informações privilegiadas contadas pelos que ela chama de “ícones da imprensa”. Gonzaga Rodrigues, tido como o cronista maior, relatou a sua passagem por jornais como A União, Correio da Paraíba e O Norte, geralmente atuando não propriamente como repórter mas como formulador de edições jornalísticas, no cargo de secretário, um dos mais importantes da antiga hierarquia das redações. Havia, entre as décadas de 60, 70 e 80, sobretudo, conforme Gonzaga, uma concorrência salutar entre os veículos de comunicação paraibanos dentro da meta de oferecer a melhor cobertura dos fatos,
Ele falou da “emulação” travada com Severino Ramos, que reputa como um dos mais completos profissionais da reportagem na Paraíba. Ambos, em jornais distintos, lutavam pelo chamado “furo”, a notícia exclusiva, numa fase que se convencionou chamar de jornalismo romântico ou idealista. Gonzaga esteve na linha de frente da veiculação de matérias referentes às Ligas Camponesas e às mortes de líderes camponeses como João Pedro Teixeira, em Sapé, em 1962 e relatou o esforço dos jornalistas para driblar a censura, que se fazia intensa na vigência da ditadura militar instaurada em março de 1964. Rodrigues, David e Nonato concordaram em que o jornalismo era exercido, então, também, de forma engajada e com inserção no processo social, abrindo espaço para as reivindicações das camadas marginalizadas.
Na entrevista a Cláudia Carvalho, Antonio David ofereceu verdadeiras lições sobre o processo de utilização da fotografia como ilustração de matérias jornalísticas de fôlego, repetindo o conceito sobre a força da imagem na narrativa dos fatos. Conforme David, havia toda uma complexidade e, em certa medida, uma pitada de engenharia no aperfeiçoamento do trabalho fotográfico. Ele mencionou ícones da reportagem fotográfica no Brasil e no exterior e manifestou sua convicção de que a imagem ainda tem muita força, muito chamariz para leitores e internautas. Nonato Guedes registrou fatos de sua passagem por inúmeros órgãos de imprensa da Paraíba e de outros Estados e deu ênfase ao trabalho de vanguarda encetado no rádiojornalismo na cidade de Cajazeiras, no Sertão paraibano, quando chegou a desafiar ordens expressas da Censura proibitivas de divulgação de certas matérias. Pessoalmente ele não foi molestado, mas a rádio Alto Piranhas, que pertencia à diocese, chegou a ficar dois dias fora do ar, fechada pelo Dentel, por ter sido a única estação do país a divulgar a notícia da prisão e torturas de Edival Nunes da Silva, o “Cajá”, que trabalhava na pastoral da Arquidiocese de Olinda e Recife, sob o comando de dom Helder Câmara, e era, também, integrante de um partido clandestino de esquerda. “O programa especial é um documentário importantíssimo sobre os ciclos que pontuaram a imprensa”, afirma Cláudia Carvalho.
Da Redação