O que é mais estratégico para partidos que fazem oposição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: vê-lo cumprindo prisão por condenação judicial sob acusação de receber propinas e praticar outras falcatruas ou enfrentá-lo nas urnas, como candidato outra vez ao Planalto, na expectativa de derrotá-lo? Seja lá importante ou não, essa é a discussão que está em pauta nas reuniões e nos convescotes de líderes políticos, enquanto é apreciada de modo mais formal pelos doutores da Lei encarregados de aplicar a Justiça, pelo menos em tese ou nas aparências.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, já deu o tom apregoando que o melhor é enfrentar Lula como o velho adversário, na presunção de que o político petista perdeu muita substância e credibilidade, especialmente no discurso ético que era a sua arma favorita contra os opositores ou inimigos. Lula estaria, assim, plenamente vulnerável, podendo ser abatido nas urnas mercê da denúncia de maracutaias que lhe são atribuídas em inquéritos variados. Sem falar na condenação a nove anos e seis meses, imputada pelo juiz Sergio Moro.
Lula se julga, particularmente, imbatível. Está crente de que vai tirar proveito extraordinário da “vitimologia”, ou seja, da condição que pretende explorar como suposta vítima de uma orquestração por supostamente ter governado para os pobres. Evidente que Lula não irá dizer que enquanto se preocupava em dar esmolas de bolsas aos pobres, ele e seus companheiros de PT e de jornada iam à tripa forra, fartando-se em somas vultuosas de dinheiro, algumas escondidas em cuecas ou em meias, outras diluídas nos sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro. A mais recente acusação vociferada contra Lula dá conta do recebimento de uma bolada, em dólares, de Kadaffi, o ditador da Líbia. Não foi nenhum tucano ou nenhum democrata ou peemedebista quem formulou a denúncia. Foi o ex-ministro Antonio Palocci, ex-todo-poderoso homem da República lulista, que está na cadeia e revelou o fato em delação premiada.
O julgamento do ex-presidente Lula, salvo imprevistos, deverá ser mesmo em janeiro no ano eleitoral de 2018, o que pode criar entraves legais para o registro de uma candidatura de Lula ao Palácio do Planalto para retomar a cadeira que atualmente Michel Temer ocupa. As projeções sinalizam que deveremos ter um confronto entre a extrema-direita, representada por Jair Bolsonaro, um milico despreparado, e a extrema-esquerda, aglutinando agentes políticos que se consideram “representados” por Lula. Fora daí, deveremos ter as candidaturas de Geraldo Alckmin, pelo PSDB, e Ciro Gomes, pelo PDT. Nenhuma Brastemp, nada que empolgue o eleitorado. Lula pretende completar o circo da vitimologia utilizando a tira-colo a ex-presidente Dilma Rousseff, que ainda tentará capitalizar reflexos do processo de impeachment a que foi submetida no começo do segundo mandato e que a defenestrou do Palácio do Planalto.
Para além da discussão sobre potencial eleitoral de Lula ou de um candidato do PT ou candidata a presidente da República, há um fato que deveria ser considerado sem passionalismo e de forma absolutamente fria: a Lei não permite registro de candidatura do ex-presidente se ele estiver sendo processado em pleno período eleitoral. Nesse caso, se é para cumprir a Lei, Lula deve ser preso e mantido fora do páreo eleitoral, quer para presidente ou para qualquer outro mandato. O problema é que se costuma dizer, no Brasil, que ninguém está acima da Lei e que ela vale para todos. Até agora tem sido provado que a Lei só não vale para Lula. Inimputável, ele ainda quer o incenso ou o badalo da mídia. É muito insulto para a opinião pública, mas a descrença com os políticos é tão grande que Lula se permite essas bazófias. O Brasil, decididamente, não é para amadores. Lula não é, nunca foi amador, se querem saber.
Nonato Guedes