Depois de dois anos e meio encarcerado numa cela de 12 metros quadrados, na sede da Polícia Federal em Curitiba, o executivo Marcelo Odebrecht volta hoje para a sua casa no Morumbi, em São Paulo. Cumprirá prisão domiciliar e estará sujeito ao uso de tornozeleira eletrônica, mas sai do presídio disposto a voltar ao jogo, não como coadjuvante numa empresa que ajudou a expandir à custa de muita corrupção. Para não ser deixado de lado no comando da holding familiar, a Kieppe, Marcelo Odebrechtt ensaia uma aliança com dois primos.
Amigos e pessoas próximas dizem que Marcelo, hoje, é um homem mais introspectivo e mais sereno, sem ostentar a empáfia que deixou transparecer no dia 15 de junho de 2015, quando esbravejou à imprensa que estava irritado por ter sido colocado na linha de fogo do embate político. “Nós geramos empregos”, exclamou, indignado. Ele foi surpreendido pela Polícia Federal em sua casa e levado à carceragem de Curitiba, onde fica a sede da República da Operação Lava-Jato, que tem como expoentes o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnoll. Marcelo permaneceu preso por 914 dias – fora condenado a dezenove anos e quatro meses de prisão, tornado delator e impedido por decisão da Justiça de comandar seu império e mesmo de pertencer aos quadros da Odebrecht. Ele sai da cadeia disposto a mostrar que a prisão não o aniquilou.
De acordo com uma reportagem da revista “Veja”, no documento de 85 páginas fixando as condições do acordo de delação de Marcelo Odebrecht não há impedimento para que atue como terceirizado da empresa quando se encerrar o período da prisão domiciliar em 2020. No regime aberto, teria a possibilidade de criar uma empresa que preste serviços, inclusive, àquela da qual foi afastado. Mas essa é apenas uma das hipóteses que constam da carteira de planos do empresário para o futuro. Ele tem outros objetivos de curto prazo, valendo-se da condição de detentor de 5% das ações da holding familiar Kieppee, o que lhe permite uma retirada mensal aproximada de 10 milhões de reais, incluindo rendimentos e dividendos. Ele busca alianças porque está rompido com o pai, Emílio Odebrecht. O patriarca da família receia que a saída de Marcelo da prisão se transforme num “componente tóxico” para a sobrevivência da empresa. Quando deixar a prisão, Marcelo será esperado do lado de fora por Isabela, suas três filhas e pelo advogado criminalista Nabor Bulhões, que o acompanha desde o início de 2015. O empresário vai passar o Natal num condomínio de luxo no Morumbi.
Nonato Guedes, com agências