O deputado federal Paulo Maluf, que está preso por lavagem de dinheiro, tentou aliciar políticos paraibanos para apoiá-lo numa candidatura a presidente da República, na década de 80, oferecendo passagens aéreas e mordomias em São Paulo e Brasília, bem como outros favores. No começo do ano de 81, quando era governador biônico, Maluf distribuiu medalhas e a comenda da Ordem do Ipiranga, em cerimônia pomposa no Palácio dos Bandeirantes. O então governador paraibano Tarcísio Burity, que na primeira vez fora escolhido indiretamente pelo Planalto, recusou a condecoração de Maluf alegando compromissos superiores.
Versões que chegaram à imprensa davam conta de que Burity rejeitou a homenagem porque se sentiria constrangido de receber a medalha juntamente com o senador Maurício Brasilino Leite, seu adversário na conjuntura paraibana. Em agosto de 80, Maluf veio a João Pessoa paraninfar uma turma de formandos de Engenharia e acabou sendo vaiado, em plena cerimônia, por um grupo de estudantes. A vaia foi abafada pela claque do governador paulista, que respondeu com aplausos. Na visita a João Pessoa, Maluf aproveitou para visitar a região da seca e oferecer apoio técnico-financeiro a empreendimentos locais. Deputados de várias tendências, com exceção do PMDB, fizeram questão de se aproximar de Maluf, que abriu as portas do Banespa e disse não haver limite para operações em favor da Paraíba.
Em Campina Grande, assessores de Maluf ofereceram cheques especiais a jornalistas. Um dos mais ativos no assédio era Calim Eid, chefe da Casa Civil do governo paulista. Os analistas políticos comentavam o oportunismo de Maluf em começar uma pré-campanha ao Planalto pela Paraíba, Estado onde as disputas políticas eram menores, comparadas a outros Estados. Na ida dele a Campina Grande, o cicerone foi o ex-ministro João Agripino Filho. Burity, como governador, recusou-se a fazer honras ao governador paulista, que tinha entre seus aliados, além de Wilson Braga, deputados federais como Joacil de Brito Pereira e Adauto Pereira e estaduais como Soares Madruga e Aércio Pereira. O ex-governador paulista saiu da Paraíba confiante nos votos para bater no colégio eleitoral indireto, em 85, o ex-presidente Tancredo Neves. Capitaneados pelo governador Wilson Braga, delegados e convencionais do PDS paraibano votaram majoritariamente em Maluf, embora alguns deles, na convenção partidária, tenham sufragado Mário Andreazza.
Na imprensa do Sul do país, ganhou repercussão a suposta briga de casal entre o governador Wilson Braga e sua mulher, Lúcia, que depois foi deputada federal e constituinte. Lúcia fez apelo público e dramático ao marido para não optar por Maluf, tido como a encarnação do Mal. Foi socorrida nessa cruzada pelos filhos Marcelo e Patrícia, já falecidos. Lúcia afirmava entender os vínculos políticos de Wilson com o sistema vigente, mas pessoalmente não abria mão de declarar preferência por Tancredo, afinal eleito mas impossibilitado de tomar posse, por ter morrido nas vésperas.
Nonato Guedes