O governo federal, segundo fontes que o integram, está mesmo fazendo lobby junto a governadores de Estados no sentido de que convençam deputados aliados a votarem pela aprovação da reforma da Previdência. Em troca, o governo do presidente Michel Temer passou a acenar outra vez com a liberação de recursos. O Secretário de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, admitiu a operacionalização da barganha mas não avaliou como chantagem o que está sendo feito.
Marun confirmou que está se valendo de recursos da Caixa Econômica Federal como moeda de troca para que governadores pressionem parlamentares a aprovar as mudanças nas regras da aposentadoria. Marun explicou que financiamentos da Caixa Econômica Federal são ações de governo do contrário, o governador poderia tomar esse financiamento no Bradesco, que é uma instituição privada. E adiantou: Não entendo que seja uma chantagem o governo atuar no sentido de que um aspecto tão importante para o Brasil se torne realidade. O governo espera daqueles governadores que têm recursos e financiamentos a serem liberados uma reciprocidade no que tange à reforma da Previdência.
Desde que foi investido no cargo em 15 de dezembro, Carlos Marun tem procedido ao levantamento dos pedidos de empréstimo e financiamentos de bancos públicos, como a Caixa Econômica, a Estados e municípios, condicionando a assinatura dos contratos ao apoio dos governadores à nova Previdência. Ao ser questionado sobre possíveis retaliações a quem não apoiar a proposta, Marun disse apenas que a contrapartida será levada em consideração pelo Planalto. Sendo uma ação de governo, o nível de apoio que o governador puder oferecer à questão da reforma vai ser levado em consideração, argumentou.
Marun é responsável pela articulação política do governo e anunciou que Temer deve reunir-se ainda hoje com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e com outros parlamentares, com vistas a discutir a estratégia de conquistar votos a favor da nova Previdência, cuja votação está marcada para 19 de fevereiro. Temer já liberou cargos e emendas parlamentares, além de verbas para prefeitos e governadores. Mesmo assim, não chegou aos 308 votos necessários para aprovar a medida na Câmara. A maioria dos deputados continua avaliando que a reforma é impopular, às vésperas de um ano eleitoral.
Nonato Guedes, com Folhapress