O ex-senador Marcondes Gadelha, presidente do diretório regional do PSC na Paraíba, não vê qualquer semelhança entre o novo MDB, que passou a substituir o PMDB e o antigo MDB, criado em plena ditadura militar e no qual ele militou, integrando o grupo dos autênticos. Para Gadelha, a volta da denominação MDB atende a uma regra que está se firmando na legislação política com o desaparecimento da denominação partido. Salientou que é um caminho inverso ao que tem sido adotado até então e que praticamente exigia a precedência da palavra Partido na nomenclatura das siglas. É, por assim dizer, uma mera formalidade, combinada com estratégia de preservação diante do desgaste que afetou organizações partidárias e destroçou carreiras vitoriosas de políticos de destaque, adiantou, mencionando outra diferença: o MDB da década de 70 teve papel relevante no combate à ditadura e empalmou bandeiras como a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, enquanto o de hoje convive com realidade democrática e ascendeu mesmo ao poder federal no bojo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT.
Na orelha do livro Autênticos do MDB, da professora Ana Beatriz Nader, Marcondes Sampaio observa que o Grupo Autêntico da década de 70 do MDB logo se transformou numa espécie de sementeira de mobilização da sociedade civil contra o regime militar que, à época, exibia a sua face mais dura, com violações de direitos humanos, suspensão de garantias constitucionais, cassações de mandatos, prisões ilegais e torturas seguidas de mortes de ativistas que desafiavam o regime. Além de Gadelha, compunham o Grupo Alencar Furtado, Amaury Muller, Eloy Lenzi, Fernando Cunha, Francisco Pinto, Francisco Amaral, Fernando Lyra, Freitas Diniz, Jaison Barreto, Getúlio Dias, Jerônimo Santana, Lysâneas Maciel, Nadyr Rossetti, Paes de Andrade, Santilli Sobrinho e Walter Silva. O Grupo Autêntico foi uma das alternativas possíveis de enfrentamento da ditadura; uma outra era a guerrilha, contou Marcondes no depoimento para o livro de Ana Beatriz Nader.
Marcondes Gadelha chegou a ser vice-líder do MDB, vice-presidente e presidente da Comissão de Economia no ano de 1978. Lembra que os autênticos tinham um tipo de atuação mais ou menos compartimentada, com deputados especializados em diferentes assuntos. Gadelha especializou-se, a contragosto, em economia e enfrentou o que chama de lado árido da ação do Grupo, que era o confronto com o governo na questão econômica. Marcondes passou uma temporada em Paris, onde estudou economia e relações internacionais. Teve a oportunidade de conviver com exilados brasileiros e buscou aprofundar contatos com o economista paraibano Celso Furtado, que lecionava na Faculdade de Rue dAssas. O diálogo com Celso, entretanto, foi bastante difícil, tendo em vista a postura extremamente contida que ele demonstrou sobre problemas brasileiros, como consequência do fato de estar sendo vigiado por emissários da repressão militar do Brasil. Percalços à parte, tenho boas lembranças do período de atuação no Grupo dos Autênticos do MDB, confessou Marcondes em conversa informal com repórteres deste site.
Nonato Guedes