Já imaginou a Música Popular Brasileira sem as canções de Chico Buarque de Holanda? Para muitos, nosso maior compositor, um ícone do nosso cancioneiro, com canções de protestos e autor das músicas que melhor retrataram a alma feminina. É sobre esse Chico Buarque que fala o livro Um olhar interpretativo das canções de Chico Buarque, de Rui Leitão, lançado neste sábado (6). A obra traz cem crônicas inspiradas nas letras de canções de Chico e tem prefácio assinado por Hildeberto Barbosa Filho, com texto de apresentação de Antônio Fonseca Jr. Editado pela Ideia, o livro será vendido a R$ 50,00.
Rui Leitão destaca que o cronista do cotidiano busca oferecer aos seus leitores a interpretação de temas e acontecimentos que interessem à coletividade. Sendo assim, não poderia encontrar inspiração maior para o exercício dessa atividade literária do que as mensagens contidas na produção musical de Chico Buarque de Holanda. Ele consegue, como ninguém, interpretar o viver social do brasileiro, desde os seus sentimentos e emoções, às vivências contextualizadas no ambiente político. Revela-se um compositor que, sem perder o lirismo poético, cumpre com coragem o dever cívico de manifestar sua consciência crítica. Ao tempo da ditadura militar foi um contestador do regime , registrando para as gerações que o sucederam o clamor de um povo que se sentia impedido de gritar sua irresignação com a situação que o país vivia à época, justifica.
O critério principal adotado por Rui Leitão na seleção das músicas comentadas foi o da mensagem contida na letra das canções. Tanto as que têm uma linha voltada para o romantismo, quanto as que são carregadas de substância no discurso político da abordagem de questões sociais. A sua discografia é, sem dúvida alguma, um registro da nossa história recente, refletindo um passado que não desejamos ver repetido, acrescenta.
Chico Buarque é um dos maiores artistas do país, mas ultimamente vem sendo questionado por conta de suas posições políticas. Rui Leitão vê isso com muita tristeza. Não consigo compreender como se pode confundir o talento do artista com as suas preferências políticas. Num país democrático, todos têm o direito de assumir suas posições e expressar livremente o seu ideário político. É inaceitável negar a genialidade de Chico Buarque como poeta e compositor, apenas porque não está de acordo com o que ele pensa politicamente. Isso se chama cegueira cultural provocada por um fanatismo ideológico, lamenta.
As crônicas do livro foram publicadas, primeiro, nas redes sociais. Segundo Rui Leitão, o mundo da internet abre espaços para que as pessoas possam trocar impressões, opiniões e idéias. Tenho feito uso das ferramentas virtuais para divulgar minhas crônicas, tanto na coluna que assino no portal WSCOM, quanto nas redes sociais. O feedback tem sido positivo, o que tem servido como estímulo para continuar percorrendo esse caminho da literatura. Esse livro nasceu exatamente do incentivo recebido dos leitores, explica.
Nessa linha em que usa por inspiração as letras de canções da música popular brasileira, é a segunda experiência de Rui Leitão. A primeira foi com a edição do livro Canções que falam por nós, editado pela A UNIÃO, onde escreveu 250 crônicas baseadas nas mensagens de músicas de vários compositores da MPB, em todos os tempos. Não planejei continuar nessa trilha editorial. Para este ano meu projeto é concluir um livro de resgate histórico, intitulado Inventário do tempo, em que comento acontecimentos que vivi ou testemunhei nos meus primeiros quarenta anos de vida. Mas a idéia de voltar a escrever sobre outro nome do nosso rico acervo do cancioneir o popular não está descartada, completa.
Por Linaldo Guedes – linaldo.guedes@gmail.com