Articula-se em Cajazeiras, no Alto Sertão paraibano, uma programação envolvendo o poder público, lideranças políticas e setores culturais, para a celebração, em maio, do centenário de nascimento de um dos filhos ilustres da cidade, Ivan Bichara Sobreira, que foi deputado estadual, deputado federal, governador do Estado e teve profícua atuação literária mediante um legado de romances e obras memorialísticas. Ivan era ligado ao ex-ministro José Américo de Almeida- sua esposa, Mirtes de Almeida, era sobrinha do autor de A Bagaceira.
Indicado governador pelo critério indireto, na vigência do regime militar, Ivan faleceu no Rio de Janeiro em junho de 1988. Candidato ao Senado em 1978, sentiu-se vítima de insidiosa traição de companheiros de partido que sufragaram Humberto Lucena, vitorioso com o reforço de sublegendas tituladas por Ary Ribeiro em Campina Grande e João Bosco Braga Barreto em Cajazeiras. Filho de João Bichara e Hermenegilda Bichara Sobreira, Ivan iniciou os estudos no Colégio Padre Rolim, na cidade-berço, concluindo o ginasial no Liceu paraibano em João Pessoa. Aluno da tradicional Faculdade de Direito do Recife, foi colhido pelos acontecimentos políticos de 1945 e teve atuação realçada ao lado do líder Demócrito de Souza Filho, tendo pronunciado o discurso junto ao túmulo do acadêmico mártir das lutas políticas estudantis. Sertanejo manso de espírito, cordial e culto, na definição do jornalista José Souto, Ivan foi presidente da Assembleia Legislativa e presidente da Caixa Econômica Federal.
Foi autor dos romances Carcará, Tempo de Servidão e Joana dos Santos, que vieram a lume nas décadas de 80e 90. No dia 24 de maio de 1974, coincidindo com o aniversário de nascimento, ganhou como presente maior a indicação, pelo presidente Ernesto Geisel, para governar a Paraíba, vencendo nomes influentes chancelados por lideranças de prestígio no Estado. Era tido como um político diferente. Empossado no governo em 15 de março de 1975, junto com o indicado para vice-governador, o advogado Dorgival Terceiro Neto, As poucas admissões de funcionários que remontam à sua passagem pela chefia do Executivo realizaram-se através do instituto do concurso público. Sem vocação para a prática de métodos condenáveis mas em voga na atividade política, talvez por isso Ivan tenha sido imolado por companheiros de partido na luta por uma vaga ao Senado em 78. Individualmente, ele bateu o concorrente principal, Humberto Lucena, mas foi tragado pelas sublegendas que reforçaram Lucena. No governo do Estado ele sucedeu a Ernani Sátyro, que lutou ferrenhamente pela confirmação do seu nome. O povo ainda não teve como avaliar bem o que foi a presença do sertanejo de Cajazeiras no mais elevado posto político do Estado, anotava José Souto em ensaio-perfil sobre Ivan Bichara, acrescentando que ele empalmou um dos quatriênios administrativos mais fecundos que o Estado viveu.
Nonato Guedes