Um dos escândalos de grande repercussão, originado em pleno regime militar, foi denunciado na tribuna do Senado pelo paraibano Humberto Lucena, que se elegeu em 78 pela primeira vez para aquela Casa do Congresso, derrotando nas urnas o ex-governador Ivan Bichara Sobreira, cujo centenário de nascimento será lembrado em maio próximo. Num discurso proferido em março de 1983, Lucena registrou denúncia apresentada pelo Procurador Pedro Jorge contra 19 pessoas, incluindo políticos, militares, agricultores, técnicos de órgãos do governo e agentes do Banco do Brasil, pelo desvio de Cr$ 1 bilhão e 500 milhões da agência do Banco do Brasil em Floresta (PE) por meio de falsificação de cadastros, liberação de financiamentos em nome de defuntos e aplicação de verbas do custeio agrícola em cadernetas de poupança.
O escândalo da mandioca começou em 1979, quando Edmilson Soares Lins assumiu o cargo de gerente da agência recém-inaugurada. Ele começou a fraudar em causa própria até que outras pessoas do banco resolveram participar. Os recursos que se destinavam ao plantio de mandioca foram usados em construção de casas, compra de imóveis e automóveis, no comércio e até em outras lavouras. No dia 03 de março, após ter sido afastado do inquérito por Inocêncio Coelho, com base em suspeição levantada pelo capitão PM Audas Diniz de Carvalho, um dos indiciados, o Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva foi morto a tiros perto de sua casa em Olinda, quando ia entrar no carro depois de comprar pão. A investigação do crime ficou a cargo da Polícia Federal e o processo contra os indiciados no escândalo da mandioca correu na Primeira Vara da Justiça Federal.
O ex-senador paraibano, já falecido, considerou estarrecedor tudo o que aconteceu naquele período e culpou o Procurador-Geral da República, Inocêncio Mártires Coelho, de ter afastado um subordinado, no caso o Procurador Pedro Jorge, tornando-o vulnerável, inclusive, na integridade física. O escândalo ganhou proporções em diferentes esferas e teve ampla cobertura da imprensa. O Jornal do Brasil chegou a divulgar um editorial intitulado A Voz do Morto, observando que a opinião pública ficou traumatizada simultaneamente com o afastamento do Procurador Pedro Jorge e, na sequência, com o seu bárbaro assassinato. É uma situação tão grave que não tenho lembrança de ter assistido a algo semelhante, verberou Humberto Lucena. A persistência de escândalos políticos na conjuntura atual demonstra que o escândalo da mandioca fez escola, inclusive, no território da impunidade.
Nonato Guedes