Em princípio ainda está marcado para 24 próximo o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo TRF4 em Porto Alegre. A Turma do Tribunal Regional Federal decidirá se confirma ou não a condenação imposta pelo juiz Sergio Moro a Lula, sentenciado a nove anos e meio de prisão por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Num dos seis processos em que virou réu desde o início da Lava Jato, Lula é acusado de ser o dono oculto de um tríplex no balneário paulista do Guarujá, dado em retribuição a benesses concedidas à OAS nos tempos em que era presidente. Três desembargadores julgarão Lula e eles têm fama de durões são Victor Laus, João Pedro Geebran Neto e Leandro Paulsen. Além do mais, contariam a seu favor com as provas dos autos incriminando Lula. Mas…
Mas está em curso a operação vitimologia com a intenção de transformar o ex-presidente em objeto de uma orquestração insidiosa para destruir sua liderança política e aniquilá-lo juntamente com o Partido dos Trabalhadores, de longe a sua obra mais marcante, ainda que à custa de mensalões, mesadas e petrolões da vida. Uma grande parcela da opinião pública faz de Lula um julgamento duplo que em tudo por tudo o beneficia: ele é o benfeitor dos pobres, que fez o Bolsa-Família e a cota de negros; em outra vertente, é o coitadinho em vias de ser punido por ter ficado ao lado dos pobres. Um enredo inteiramente populista, alimentado até por intelectuais de nomeada, que consideram Lula o maior fenômeno de todos os tempos e se agarram a essa ilusão para darem algum sentido a suas crenças e seus discursos.
Lula é o grande malandro da política brasileira. Fez fama como retirante expulso do Nordeste pela estiagem e como remanescente de uma família pobre que teve quer recorrer a pau-de-arara para deslocar-se de Caetés, no interior pernambucano, à metrópole. Na sequência, vestiu o macacão de torneiro mecânico, liderou greves no ABC paulista, foi preso. Pronto! Estava montado o novo produto de marketing a ser oferecido à opinião pública ávida por falsos heróis para chamar de seus. Completou-se a pantomima com os dois mandatos de Lula conquistados a céu aberto, derrotando nomes ilustres do baronato político, empresarial e intelectual brasileiro. Lula é o cara, disseram eleitores seus e interlocutores do exterior de passagem pelo Brasil ou em contato com o ex-presidente nos seus países ou em ambientes neutros. Tudo isto colaborou para a montagem do mito, de forma indelével.
Se não virou santo como desejava, Lula foi canonizado pelos descamisados, pela massa do povo que antes constituía o lúmpen proletariado e que o endeusa nas praças, pedindo a sua volta ao governo pelo amor de Deus para afagar os fracos e oprimidos. Embora manifestações externas não costumem interferir no julgamento de magistrados, esse próximo julgamento de Lula está contaminado antecipadamente pelo carnaval montado por advogados, políticos do PT e os que são contrários a tudo isso que está aí. O resumo da ópera é simples: em tese, Lula tem tudo para ser condenado e até preso. Mas, também em tese, Lula tem tudo para sair aclamado nos braços do povo como o herói que venceu a arrogância das elites. Sinceridade? Se não haverá julgamento, mas, sim, espetáculo, melhor cancelar essa sessão. Não sei se seria o caso de convocar logo eleições diretas e dar posse a Lula. Não sendo possível isto, vamos aguardar a grande panacéia programada com direito a barricadas do MST e tudo.
Afinal, o cara merece!
Por Nonato Guedes
e-mail: nonaguedes@uol.com.br