A atual dissidência que eclodiu no MDB paraibano, liderada pelo vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Júnior, que prega o apoio à candidatura do prefeito Luciano Cartaxo (PSD) ao governo, não é inédita na trajetória do senador José Maranhão como dirigente do partido. Em 98, quando anunciou sua candidatura à reeleição ao governo, Maranhão foi contestado no então PMDB pelo influente grupo Cunha Lima, com base, então, em Campina Grande e cujos expoentes maiores eram o senador Ronaldo e seu filho, Cássio. O clã lançou Ronaldo a presidente do diretório regional contra o candidato apoiado por Maranhão, Haroldo Lucena, mas o rolo compressor montado por JM acabou sendo decisivo e os Cunha Lima, além da derrota pelo comando, amargaram a oficialização da candidatura de Maranhão a um novo mandato. Ficaram reféns dentro do partido, nutrindo simpatia informal pela candidatura de Gilvan Freire (PSB) que sofreu derrota acachapante para Maranhão nas urnas. Passado o pleito, o clã campinense e aliados como o ex-prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, migraram para o PSDB.
A queda de braço contra Maranhão começou na definição do candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Antônio Mariz, que disputou o governo em 1994. Os Cunha Lima apostaram no nome do deputado estadual Carlos Dunga, enquanto Maranhão, que era deputado federal, angariava outros apoios para ser ungido. A decisão final veio de Mariz, durante um encontro em Brasília na residência do senador Humberto Lucena, presidente do Congresso Nacional. Abordado por jornalistas, Mariz revelou que tinha preferência por Maranhão, que era um político cassado pelo regime militar e cuja seriedade era exaltada nos círculos políticos paraibanos. Frisou, ainda, que não tinha nada, em termos pessoais, contra Dunga, exceto o fato de que ambos foram oriundos da Arena, o que poderia sugerir ao eleitor uma arenização da chapa, com reflexos negativos nas urnas. O argumento de Mariz não convenceu aos Cunha Lima.
Na tentativa de pacificar os ânimos, Maranhão, já investido na titularidade do governo devido à morte de Mariz em 95, foi a Campina Grande em 98 prestigiar a festa de aniversário de Ronaldo, realizada no Clube Campestre, na presença de um grande público. Na oportunidade, levou ordens de serviço para execução de obras públicas relevantes na cidade, deixando claro tratar-se de um presente a Ronaldo, que havia sido prefeito da Rainha da Borborema. Surpreendendo a todos, Ronaldo, em seu discurso, fez graves insinuações contra Maranhão, no sentido de que ele não estava correspondendo no mister de governar a Paraíba. E, em tom de bravata, propôs a Maranhão que lhe passasse o cargo; do contrário, iria arrebatá-lo das suas mãos nas urnas. O tom da briga no Campestre dividiu profundamente o PMDB, e o senador Humberto Lucena, internado em São Paulo, foi poupado de informações maiores sobre a realidade, embora tivesse vagas referências em torno da discórdia.
Com o desligamento do clã Cunha Lima do PMDB, Cássio foi alçado naturalmente à liderança dos dissidentes que se aninharam, em grande maioria, no PSDB, com outros filiando-se a partidos como o PTB, a exemplo de Armando Abílio, então deputado federal. Cássio acabou concretizando o seu projeto de eleger-se governador em 2002, quando derrotou Roberto Paulino, então vice de José Maranhão e que estava aboletado em Palácio com a saída de JM para concorrer ao Senado. Cássio derrotou Paulino no segundo turno. Ele foi eleito pelo PSDB e Maranhão logrou ascender a senador. Em 2006, Cássio derrotou o próprio Maranhão ao governo, mas em 2009 teve o mandato cassado. A Justiça determinou que Maranhão e seu então vice na disputa de 2006, Luciano Cartaxo, fossem investidos na função. O filho de Ronaldo e o herdeiro de Benjamin Maranhão reconciliaram-se em 2016 na campanha de Luciano Cartaxo à reeleição como prefeito de João Pessoa tendo como vice Manoel Júnior, que agora apoia Cartaxo ao governo e se indispõe contra Maranhão, embora assegure que pretenda permanecer no MDB. Já estou acostumado a embates e não sou de renegar convicções, adverte Maranhão, preparando-se para mais um confronto interno.
Por Nonato Guedes
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