A administração do socialista Ricardo Coutinho à frente do governo da Paraíba completou sete anos no primeiro dia deste mês e se encaminha para a reta final em meio a um grande desafio colocado na mesa do Palácio da Redenção: a eleição de um candidato de confiança de Ricardo para sucedê-lo a partir de 2019. Teoricamente, o candidato in pectoris do governador é um técnico, o engenheiro João Azevedo, secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos, que nunca disputou mandato político e que chegou a ser rifado na marca do pênalti para indicação como candidato a prefeito de João Pessoa por duas vezes. Um outro desafio de Ricardo é o de se eleger a uma vaga de senador. Ele chegou a dizer enfaticamente, por algum tempo, que não seria candidato porque tem como prioridade a administração estadual, mas ultimamente sinaliza com a perspectiva de entrar no páreo, até como estratégia para fortalecer bancadas na Assembleia e Câmara Federal, bem como influenciar na disputa ao governo.
Nascido em João Pessoa em 18 de novembro de 1960, Ricardo Vieira Coutinho tornou-se o primeiro governador eleito da Paraíba com origem nos movimentos sindicais e nas lutas sociais. Filho de um agricultor e de uma costureira, Ricardo fez o Curso de Farmácia na Universidade Federal da Paraíba, especializando-se nesse ramo, mas desde cedo foi arrastado para a militância política, inicialmente como vereador, depois como deputado estadual, prefeito de João Pessoa eleito por duas vezes e, finalmente, governador também eleito duas vezes. Aliou-se a políticos tradicionais como Cássio Cunha Lima e José Maranhão e derrotou-os a céu aberto no confronto pelo governo estadual. Foi o mentor de um denominado Coletivo Ricardo Coutinho, que tinha como um dos expoentes o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, cuja candidatura à reeleição foi vetada por Ricardo dentro do PSB. Na Assembleia Legislativa, Coutinho tem logrado eleger os presidentes no período em que é governador, o que lhe confere certa tranquilidade para a votação de matérias de seu interesse. A aprovação dessas matérias é coordenada pelo líder governista Hervázio Bezerra, que chegou mesmo a se filiar ao PSB para ficar mais à vontade no agrupamento ricardista.
Tido como personalista e perseguidor por adversários políticos, Ricardo Coutinho foi a grande revelação da conjuntura política paraibana recente, tendo se transformado no primeiro governador da era digital, com o recurso a redes sociais para comunicação de informações de interesse do governo. Originalmente iniciou sua carreira no Partido dos Trabalhadores, do qual saiu ao sentir que seria rifado na pretensão de disputar a prefeitura da Capital. Acabou migrando para o PSB e ganhando prestígio junto ao ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que era o presidente nacional e estava em marcha batida para concorrer a presidente da República. A trajetória de Campos foi ceifada com sua morte em acidente aéreo em São Paulo. Na Paraíba, Ricardo reatou ligações com o Partido dos Trabalhadores. Insurgiu-se contra a ascensão do emedebista Michel Temer à presidência da República, engrossando o coro dos que consideraram golpe o impeachment de Dilma Rousseff. Coutinho chancelou visitas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff à Paraíba inclusive a obras do projeto de transposição de águas do rio São Francisco.
O governador, que se divorciou da jornalista baiana Pâmela Bório, com quem tem um filho, é reconhecido até por adversários pela operosidade administrativa. A Paraíba situa-se positivamente no ranking nacional da Secretaria do Tesouro devido ao equilíbrio de caixa mantido pelo governador, sem o sacrifício de investimentos e obras. Nas duas gestões, Ricardo tem operado para interligar o Estado e quebrou o isolamento entre pequenas e médias ou grandes cidades, o que teve reflexos na própria performance econômica do Estado. Habilidoso na dialética, Ricardo é criticado por não praticar o gênero populista na relação com eventuais aliados. Não sou de dar tapinhas nas costas, reconheceu ele numa das entrevistas. Nem por isso deixa de conceder audiências e agir para tentar favorecer municípios governados por adversários. Quem primeiro alertou jornalistas da Paraíba sobre a eclosão de um fenômeno político representado pela figura de Ricardo Coutinho foi o poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima. A profecia se materializou em pouco tempo na quadra política estadual.
Por Nonato Guedes
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