O deputado federal Rômulo Gouveia, presidente do PSD na Paraíba, proferiu uma verdade quando assinalou que é irreversível a candidatura do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, ao governo estadual em outubro próximo, independente das alianças que forem firmadas com partidos que se dizem oposição ao governo Ricardo Coutinho. Em política há momentos em que é praticamente impossível recuar, ainda que as circunstâncias pareçam nebulosas ou que não se tenha convicção da vigência de céu de brigadeiro para pavimentar as pretensões. Luciano, aliás, precipitou o lançamento da candidatura ao governo quando ainda tinha que passar pelo teste da reeleição à prefeitura da Capital.
O lançamento antecipado da postulação ao governo foi temerário, diante da exploração feita pelos adversários, que poderia ter tido consequências danosas ou desgastantes. No caso específico de Cartaxo, envolvido pela aura de político teflon que escapou incólume ao jorro de denúncias contra políticos no ano de 2017, sem falar nas prisões decretadas, a exploração acerca da virtual candidatura a governador não surtiu efeito. Seja porque o eleitorado da Capital já tenha se acostumado a isso desde que Ricardo Coutinho, no segundo mandato como prefeito, largou tudo para chegar ao Palácio da Redenção, seja porque Cartaxo não tinha concorrentes de fôlego capazes de derrota-lo na campanha à reeleição, o fato é que a segunda disputa pela prefeitura foi um passeio de tal sorte que o alcaide foi guindado a novo mandato já no primeiro turno, sem a necessidade de se submeter ao julgamento definitivo.
Quando se fala na ausência de candidatos competitivos à prefeitura da Capital em 2016, a referência é direta à candidata lançada pelo PSB do governador Ricardo Coutinho, Cida Ramos, e ao candidato do PT, Charliton Machado, que além de desconhecido do grande público ainda amargou o respingo do desgaste nacional da legenda, com as trapalhadas cometidas até pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem falar no impeachment de Dilma Rousseff, que se processou sem qualquer atmosfera de comoção nacional, ficando restrito à militância e a filiados petistas o gemido de protesto pela decisão tida como política essencialmente política. É preciso lembrar que Luciano Cartaxo, na primeira vez, foi eleito prefeito de João Pessoa pelo PT. Teve a acuidade de saltar da legenda antes de enfrentar estilhaços da orquestração nacional contra a legenda. Migrou para o PSD, um partido insípido e anódino, sem ideologia forte ou princípios definidos perfil ideal para Cartaxo, que faz política de forma tangenciada e até despolitizada.
Ainda assim, corria riscos na própria campanha pela reeleição ao se dizer pretendente ao governo do Estado agora em 2018. Em política, ensinavam as raposas mineiras do PSD e da UDN, é aconselhável uma porção de sorte para se ir além. Muitos recordam, inclusive, postura famosa atribuída a Napoleão Bonaparte, que antes de liberar soldados do seu exército para irem ao front ou aos campos de batalha, investigava se eles tinham sorte. Para os céticos, é um fator subjetivo, que não impede a eclosão, por exemplo, dos Waterloo da vida como palcos de derrotas em batalhas militares. Ocorre que quando o sujeito está predestinado a ser alguma coisa na vida pública o será e em torno dele forma-se um conjunto de fatores, dos quais se realça aquele mais jocoso ou interessante. Como o alegado fator sorte. E já que estamos nesse território subliminar, convém aludir a outra questão que precisa estar presente na trajetória de Luciano para consolidar vitória a governador: descobrir o seu mapa astral para identificar se no horóscopo dele consta a palavra governador. Era assim que o filósofo Manuel Gaudêncio operava para avaliar disputas políticas paraibanas em alguns casos, dava certa a profecia. Em outros, não. Mas o fato indiscutível é que a esta altura a candidatura de Cartaxo já não lhe pertence com exclusividade, daí dizer-se que ele está condenado a ser candidato, seja para ganhar, ou para perder.
Nonato Guedes