Deputados e políticos que são candidatos a eleições proporcionais na Paraíba em outubro e acompanham a liderança política do governador Ricardo Coutinho, não escondem, nos bastidores, o receio de sofrerem represália da parte da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) como revanche pelo desprestígio da parte do atual gestor ao não apoiar a pretensão dela em concorrer à sua sucessão. Em tom informal, fala-se do perigo da caneta de Lígia como governadora, uma alusão ao poder que ela enfeixará em mãos ao ser investida na titularidade uma vez oficializada a desincompatibilização de Ricardo Coutinho para disputar o Senado.
Mulher do deputado federal Damião Feliciano, do PDT, Lígia tem mantido postura de lealdade ao governador e cumpre missões que lhe são delegadas, envolvendo contatos importantes, inclusive, no exterior. Mas, dentro do clã Feliciano, a sensação é de que Lígia foi definitivamente cristianizada por Coutinho como sua provável sucessora, devido ao fato de não ser considerada ricardista ortodoxa e, portanto, atuar politicamente com autonomia ao lado do marido. Essa atitude de Coutinho está sendo encarada como ingratidão, pois os defensores de Lígia lembram que ela foi procurada para ser candidata a vice em 2014 faltando quinze dias para a eleição em primeiro turno. Na época, Ricardo estava tendo dificuldades para incluir um nome de Campina Grande na chapa majoritária e recorreu, na undécima hora, ao nome de Lígia, que tinha tido atuação política na disputa pela prefeitura da cidade Rainha da Borborema.
É estranho que um governador em vias de deixar o cargo para postular outro mandato não converse com sua substituta, a vice-governadora, e mais estranho ainda que não se sensibilize com a ofensiva dela para ser candidata à sua sucessão, desabafa um deputado com trânsito no clã Feliciano. Durante boa parte do ano de 2017, o governador disseminou a tese de que não seria candidato a nenhum cargo eletivo e que ficaria no Palácio até o último dia do mandato, a fim de tocar obras programadas e, ao mesmo tempo, conduzir diretamente a campanha do seu candidato in pectoris e já lançado à sua sucessão, o engenheiro João Azevedo, secretário de Infraestrutura e Recursos Humanos.
Azevedo é neófito na disputa de cargos eletivos, embora seja reconhecido até por adversários como um técnico qualificadíssimo. É da confiança absoluta de Ricardo e, por delegação dele, acompanha obras importantes em fase de execução, além de monitorar o cronograma da chegada das águas do rio São Francisco mediante o projeto de transposição que alcançou o Eixo Leste na Paraíba. Numa das recentes disputas à prefeitura de João Pessoa, Ricardo fixou-se no nome de Azevedo como opção para o páreo, mas acabou desativando as especulações e preservando João para uma disputa de maior impacto a de governador, este ano. A doutora Lígia Feliciano não está impedida, por lei, de se lançar candidata ao governo, mesmo permanecendo na titularidade do mandato. Afinal, é filiada a outro partido. Mas ela e o marido não querem passar recibo de traição ao governador Ricardo Coutinho, que, por sua vez, privilegia os ortodoxos ou aqueles considerados mais fiéis às suas ordens. Essa equação no núcleo do governador Ricardo Coutinho não está, de forma alguma, resolvida, advertem fontes políticas, prevendo trovoadas no decorrer da campanha eleitoral propriamente dita.
Nonato Guedes