O Michel Temer é um bosta! Foi com palavras de baixo calão que o senador petista Lindbergh Farias se manifestou no bairro dos Bancários, em João Pessoa, num dos atos públicos preparatórios à miríade de manifestações destinadas a empanar o julgamento e a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 24 próximo em Porto Alegre. Farias é natural de João Pessoa mas fez carreira política no Estado do Rio, tendo sido, inclusive, prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde fincou dúvidas sobre a moralidade administrativa. Tentou mas não conseguiu chegar ao governo fluminense ainda recentemente.
Sua notoriedade maior, na verdade, deu-se quando fazia o papel de cara pintada, assim denominados os jovens estudantes que foram às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor de Melo em 92 e protestar contra o esquema PC Farias, conexão de roubalheira alimentada pelo ex-caçador de marajás de Alagoas. Numa ironia aprontada pela História, Lindbergh virou senador na mesma legislatura em que Fernando voltou à cena, depois de cumprir exílio dourado nos Estados Unidos e até mudar de mulher, livrando-se da provinciana de Canapi Rosane Malta. E, ainda na sequência das ironias históricas, Lindbergh e Collor se depararam com a tramitação do impeachment de Dilma Rousseff. Não precisaram votar porque a Câmara liquidou a fatura. Mas tinham posições definidas e opostas: Collor era pelo impeachment de Dilma, Lindbergh era contra.
O governo de Michel Temer é desastroso e chega mesmo a ser comparado a uma nulidade. Vem sendo preenchido mais pelas ênclises e mesóclises de que se vale o ex-lente do que por medidas de impacto que se constituam alternativa ao desastre administrativo de Dilma, a mandatária que fez saudação pública à mandioca e que apregoou a necessidade de estocar o vento para armazenar reservas eólicas naturais no País. Dilma realizou um governo, digamos, prosaico, pontuado por aberrações linguísticas e pela ignorância sesquipedal em torno dos problemas ou males que acometem o Brasil. Por força do temperamento autoritário-personalista, desagradou políticos e, com isto, perdeu no Congresso votos preciosos capazes de salvar seu pescoço da guilhotina. A seu pedido, o PT comprou a ideia do golpe parlamentar, adrede orquestrado. No íntimo, Dilma dizia-se vítima de misoginia, colocando na pauta a equidade de gêneros que, mais tarde, viria a ser a grande polêmica, inclusive, nos tapetes de Hollywood. O PT fez um pacote só e encaixou Dilma no perfil de vítima. Não colou muito, mas abreviou o calvário de Rousseff, que está liberada e disponível para concorrer a qualquer mandato eletivo, graças a uma manobra ardilosa do senador alagoano Renan Calheiros.
Quanto a Lindbergh Farias, o senador paraibano que se elege com os votos do Rio, apenas agravou sua biografia ao recorrer a expressões de baixo calão nessa passagem pela Paraíba. Como parlamentar, ele defendeu o Estado do Rio com unhas e dentes, sobretudo na questão dos royalties do petróleo extraído da camada do pré-sal. Sem o menor constrangimento, indispôs-se ostensivamente contra a Paraíba. Foi barrado nessa investida insidiosa por um político de coragem e altivez o ex-senador Vital do Rêgo, hoje aboletado na cadeira de ministro do Tribunal de Contas da União. Vital foi para o embate ostensivo com Lindbergh enquanto outros parlamentares paraibanos se omitiam. Soube-se, depois, que Dilma detestava Lindbergh, que em compensação sempre teve guarida junto ao ex-presidente Lula.
É lamentável que um paraibano, mesmo atuando politicamente por outro Estado, cuide de rechear sua biografia com o apelo pornográfico da pior qualificação, lançando mão de uma linguagem rastaquera que, para ser proferida, exige a retirada de crianças da sala. Farias não amadureceu nem adicionou nível à sua carreira. Ainda bem que ele não é candidato a presidente da República. O País parece livre desse risco no que tange ao despreparo de Lindbergh para a estatura de homem público.
Nonato Guedes