A crônica política nacional está repleta de situações envolvendo suplentes de senadores ou de deputado federal que se projetaram no exercício interino dos mandatos titulares e conseguiram ser alçados a posições relevantes no cenário. Um episódio bastante mencionado é o do ex-ministro paraibano Abelardo Araújo Jurema, já falecido. No início de sua carreira, o seu nome ocupou as manchetes dos jornais da Paraíba durante os 180 dias que passou no Senado, na qualidade de suplente do senador Ruy Carneiro, eleito em 1950 para o seu primeiro mandato, e que pedira uma licença de seis meses. Um discurso feito por Abelardo na tribuna, defendendo o presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira numa fase de convulsão política nacional, impressionou o mandatário e levou-o a indicar o paraibano de Itabaiana como líder do seu governo na Câmara dos Deputados.
Abelardo Jurema foi, ainda, ministro da Justiça do governo João Goulart, deposto pelo regime militar de 1964 e teve os direitos políticos cassados, exilando-se no Peru. Com a decretação da anistia pelo presidente João Baptista Figueiredo, o último do ciclo militar que vigorou até 1985 no Brasil, Abelardo foi o primeiro homem público a se dirigir ao Palácio do Planalto e apertar a mão do governante pelo gesto que, na sua opinião, permitiria a reconciliação da sociedade brasileira. Fez isso desafiando críticas de uma minoria radical que teimava em não se adaptar à retomada do processo democrático no país. Cordial e fraterno, o que fazia manter suas amizades a todo custo, Abelardo Jurema chegou a ser cogitado como alternativa para o governo do Estado, mas o cavalo não passou selado, como se diz em política, e ele recolheu-se a outras atividades jornalísticas e literárias, sem deixar de acompanhar com interesse a conjuntura política nacional.
Jurema, pelo menos, tinha tradição política foi participante de acontecimentos decisivos na Paraíba em torno do poder. Houve situações, entretanto, em que suplentes assumiram a titularidade de mandatos sem militância política, estando mais focados na atividade empresarial. Este foi o caso de Roberto Cavalcanti, diretor-proprietário do Sistema Correio de Comunicação, que atuou como senador substituindo a José Maranhão, que se afastara para concorrer ao governo do Estado. O empresário José Carlos da Silva Júnior, do Sistema Paraíba de Comunicação e do Grupo São Braz, foi suplente de senador de Ronaldo Cunha Lima e assumiu a titularidade, fazendo pronunciamentos sobre assuntos econômicos. Em 82 ele havia sido eleito como vice-governador na chapa encabeçada por Wilson Braga, que derrotou Antônio Mariz por 151 mil votos de maioria. José Carlos chegou, ainda, a ser lançado como candidato ao governo do Estado em 86 por Wilson Braga, mas desistiu ao constatar que estava sendo cristianizado por facções do PDS. Também alegava desconforto com a condição de trem-pagador originada em torno da sua figura, desencadeando pressões de chefes políticos para que contribuísse financeiramente com suas campanhas.
Na década de 70, o empresário Domício Gondim, conhecido na Paraíba como o rei do zinco conquistou uma vaga de senador graças ao prestígio do então governador João Agripino Filho e ao aporte financeiro que injetou na sua campanha. Em parceria com Milton Cabral, ele derrotou dois nomes de expressão política: Humberto Lucena e Argemiro de Figueiredo. Na quadra recentíssima, o empresário José Gonzaga Sobrinho (Deca do Atacadão), com origens no Sertão da Paraíba, assumiu a titularidade do mandato de senador, substituindo a Cássio Cunha Lima, que se licenciou por seis meses. Deca do Atacadão procurou ser atuante no período e foi picado pela mosca azul da política, tendo seu nome cogitado para concorrer a uma vaga de deputado federal em 2018.
Nonato Guedes