Autodeclarada “uma liberal conservadora”, a jornalista Rachel Sheherazade frustrou nos últimos dias admiradores que a consideravam automaticamente uma apoiadora da candidatura de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) a presidente.
A apresentadora do “SBT Brasil” postou em redes sociais reportagens da Folha sobre ele e se viu alvo de ataques. Ela, que diz não apoiar nenhum candidato por ser “uma jornalista independente”, falou à coluna por e-mail.
Folha – Qual a sua posição em relação a Bolsonaro?
Rachel Sheherazade – Em nenhum momento apoiei o candidato Jair Bolsonaro. O que efetivamente defendi foi o cidadão Jair Bolsonaro, e numa ocasião bem específica: quando acusado de estuprador pela deputada Maria do Rosário [PT-RS]. Falei sobre o entrevero entre os dois, e de fato não encontrei razão para aquelas acusações de estupro, o que acredito ter sido um linchamento político movido por exagero e sexismo.
O fato é que jamais tive qualquer ligação, nem mesmo de empatia política, pelo senhor Bolsonaro. Quando a Folha publicou reportagem sobre a evolução patrimonial do pré-candidato, senti-me, como jornalista e como cidadã, impelida a me manifestar. Foi o que fiz.
O que pensa sobre a candidatura dele?
Toda candidatura é lícita, desde que não seja impedida pela Justiça Eleitoral. O que me preocupa é a polarização em torno de dois candidatos tão igualmente radicais e populistas (Lula e Bolsonaro). A idolatria a políticos tanto de esquerda quanto da “suposta” direita me assusta, e o ódio com que esses “messias” conduzem seus seguidores é um retrocesso para a liberdade de expressão e a democracia.
Por que acha que é considerada apoiadora de Bolsonaro?
Como sempre fui identificada como uma jornalista liberal, as pessoas acabaram me vinculando ao deputado, que, agora, se apresenta como um defensor dos valores da direita. Desde que Bolsonaro assumiu o discurso de conservador, seus seguidores vêm disseminando postagens indevidas.
Pode dar exemplos?
Utilizam minha imagem ao lado da imagem do deputado, sugerindo uma falsa aliança política e ideológica entre nós.
Mais recentemente, foram publicadas notícias falsas dando conta de que eu estaria me filiando ao partido do senhor Bolsonaro para lançar uma possível candidatura ao seu lado. Levei o fato até a assessoria de imprensa do SBT, que logo desmentiu esses boatos. Mas, quando há uma rede de militantes engajados e multiplicadores de fake news na internet, é difícil ver a verdade sobressair às mentiras convenientemente fabricadas por “messias” de ocasião.
Que tipo de ataques recebeu?
Recebi todo tipo de ataque sórdido e covarde. Calúnias e difamações de toda natureza, atingindo desde minha honra como mãe e mulher até a minha credibilidade profissional. Também recebi ameaças de morte contra meus filhos, além de ataques machistas e contra a minha origem nordestina.
Essas agressões cheias de ódio e ressentimento partiram de eleitores e seguidores do senhor Bolsonaro, do filho do parlamentar Carlos Bolsonaro e também do ator pornô e aliado político de Bolsonaro, Alexandre Frota, contra quem já representei penalmente.
Você critica os chamados “messias”. Por que acha que eles assumem esse papel? Acredita que algum “salvador” surgirá até outubro?
Espero que não precisemos de qualquer “salvador da pátria”, mas que tomemos, nós mesmos, as rédeas de nosso destino político. Acredito que políticos populistas como Bolsonaro, Lula e Maduro (na Venezuela) surgem quando os eleitores não ocupam seu lugar no espectro político, não assumem seu papel como corresponsáveis pelo futuro de seu país e acabam terceirizando essa atribuição ao primeiro demagogo que encontram pelo caminho. Espero que tomemos um rumo diferente do quadro que se apresenta no momento, que nos afastemos dos extremos, da irracionalidade e do ódio.
Hoje você apoia algum candidato a presidente?
Não apoio nenhum candidato, pois não sou cabo eleitoral. Sou uma jornalista independente. Como jornalista e formadora de opinião, não me sinto confortável em declarar meu voto. Seria uma forma indireta de envolver-me na política partidária.
O fato é que nunca tive político nem partido de estimação. Nunca me envolvi na política partidária porque preciso manter a distância necessária para ser independente jornalisticamente. Por não ter amarras politicas, é que sou livre para criticar ou elogiar qualquer político ou legenda e disso não abro mão.
Onde você se localiza em relação ao espectro político?
Considero-me uma liberal conservadora. Sou defensora das liberdades individuais dos cidadãos, do Estado minimalista, da economia aberta, mas também sou contrária a pautas como a legalização do aborto e a liberação das drogas, por exemplo.
No campo da moral, acredito que as pessoas devam exercer seu livre-arbítrio, até o limite de sua individualidade, sem invadir ou desrespeitar o direito de terceiros.
Há algum tipo de interferência do seu noivo, Matheus Faria, na sua postura crítica a Bolsonaro, como foi apontado por seguidores?
Meu noivo é uma pessoa que vive a política cidadã, não a política partidária. Como eu, ele nunca se aliou a qualquer partido ou político, mas sempre se mostrou um crítico ferrenho de corruptos e populistas, independentemente do espectro ideológico.
Nossa forma de pensar a política é muito parecida, e esse foi um dos motivos pelos quais acabamos nos aproximando. Entre nós, não há uma relação de influenciador e influenciado. Somos adultos e temos nossas convicções bem solidificadas e independentes.
Qual sua expectativa em relação ao resultado do julgamento do ex-presidente Lula no dia 24?
Minha expectativa é que a justiça seja feita, independente de pressões políticas, mas que seja uma justiça serena sem revanchismos, sem ódios e sem paixões.
Como se sentirá caso venha a noticiar no SBT a confirmação da condenação do petista?
Como jornalista, estarei apenas informando um fato aos telespectadores. Como cidadã, e acreditando na culpabilidade do réu, sentirei que a justiça, enfim, prevaleceu.
Fonte: Mônica Bergamo – Folha de São Paulo