Para simples entendedor, o cenário basta. O cenário da reunião de ontem dos tucanos, reafirmando a pré-candidatura do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, ao governo do Estado e se dispondo ao diálogo com outros expoentes oposicionistas para formatação de uma candidatura única foi adrede ensaiado para rifar o concorrente potencialmente mais forte no bloco que se diz contrário ao esquema do governador Ricardo Coutinho: o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD). Essa conversa de dialogar com outros pré-candidatos como Luciano e o senador José Maranhão (MDB) é operação-despistamento.
Maranhão está tranquilo no Tocantins, visitando suas fazendas, e convicto de que terá vaga assegurada no MDB para concorrer ao governo, embora haja indícios de que o vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Júnior, está aliciando emedebistas para defenderem na convenção a composição em torno de Luciano Cartaxo. Maranhão proclama-se candidato porque considera não ter nada a perder, uma vez que mesmo sendo derrotado ainda conservará o mandato de senador. Em tese, Luciano Cartaxo e Romero Rodrigues, por serem prefeitos reeleitos ainda recentemente e estarem em lua de mel com o segundo mandato, terão a perder ao renunciarem para postular outro mandato. Entre os dois, de forma apriorística, Luciano Cartaxo é o que desponta com maiores possibilidades de vencer uma eleição ao Palácio da Redenção.
Não necessariamente por ser o prefeito da Capital, e também por isso, já que a Capital é uma espécie de tambor, de centro de irradiação de tendências pelo Estado. Mas porque dá a impressão de ter avançado mais que Romero Rodrigues nos passos para se firmar como candidato. Embora na campanha pela reeleição a prefeito tenha contornado as interrogações sobre a candidatura ao governo, Cartaxo nunca deixou de ser tido, havido ou encarado como postulante natural à sucessão do governador Ricardo Coutinho. Não é que esteja realizando em João Pessoa uma administração revolucionária- na verdade, ele está cuidando do feijão com arroz e, quando há sobra em caixa, surpreende com alguns investimentos a mais e com penduricalhos que passam a ideia de que a Capital não está abandonada. Louve-se nele o fato de que não priorizou obras gigantescas ou faraônicas e também foi extremamente zeloso ou cuidadoso no sentido de adaptar o cronograma ao orçamento. Esta, aliás, é uma lição elementar para qualquer gestor público, seja prefeito, governador ou presidente da República, mas são poucos os que se atêm ao manual ou ao ensinamento. Excedem-se no gasto e na aparência e, quando se dão conta, não têm recursos para sequer pagar os salários dos servidores, quanto mais aplicar em obras de interesse público.
Pode ser que mude lá na frente, mas até aqui Luciano Cartaxo tem sido responsável em administrar a compatibilidade do orçamento com a previsão de metas ou realizações. De certa forma, isto o credencia a um voto de confiança para voos maiores, tendo em vista que não é estigmatizado como perdulário ou incompetente. Vale dizer: pode não ser engenhoso do ponto de vista de concretizar obras de impacto, revestidas de pedra e cal e encimadas por placas de propaganda ostensivas que se misturam com o culto à personalidade. Nesse ponto, é discreto e equilibrado. Evidente que precisará dar um influxo maior, um impulso de repercussão que espalhe aos quatros cantos do Estado a informação de que o prefeito da Capital paraibana realiza e administra desafiando a crise que tem ceifado até administrações estaduais em lugares importantes como o Rio. Este é o port-fólio com que Cartaxo pretende se apresentar, independente de apoio das oposições (leia-se Romero ou Maranhão).
Essas tais oposições, aliás, que se cuidem. Não é nada, não é nada, mas ao ignorarem Luciano Cartaxo, podem estar empurrando-o para as vizinhanças do governador Ricardo Coutinho, que tem um candidato faz de conta mas que gostaria de se empolgar com um candidato viável para acertar contas em definitivo com antigos aliados que se tornarem ferrenhos adversários políticos seus, como Cássio e Maranhão.
Nonato Guedes