O senador Fernando Fernando Collor de Melo (PTC-AL), que anunciou esta semana seu propósito de voltar a concorrer a presidente da República este ano, foi apeado do cargo quando o ocupou pela primeira vez, alvo de um processo de impeachment consumado em 1992 e no qual foi acusado de conivência com o esquema PC Farias, referência ao seu ex-tesoureiro de campanha Paulo César Cavalcante Farias, que atuou com desenvoltura logo após a posse de Collor. Primeiro presidente eleito em 1989, quando ocorreu a primeira eleição ao Planalto pós-ditadura militar, concorreu pelo PRN, apresentou-se como caçador de marajás (funcionários públicos que ganhavam altos salários) e teve como vice o ex-governador de Minas Gerais, Itamar Franco, que assumiu com o impedimento de Collor. O relator do processo de impeachment no Senado foi o paraibano Antônio Mariz, já então filiado ao PMDB, que foi minucioso ao apontar irregularidades envolvendo o ex-mandatário.
A jornalistas paraibanos, Mariz, que faleceu no exercício do governo do Estado, em 1995, vítima de câncer, afirmou que se tivesse consciência da inocência de Collor não hesitaria em pedir a sua absolvição diante das acusações imputadas. Mas os subsídios e elementos colhidos são incriminadores demais e eu não tenho outra alternativa senão a de recomendar o impeachment, salientou Antônio Mariz, que havia se destacado como Constituinte Nota Dez na Assembleia Nacional para revisão do texto constitucional instaurada em 88 por Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados. Collor foi massacrado, inicialmente, na Câmara dos Deputados, onde apenas uma escassa tropa de choque lhe foi fiel. Essa tropa era comandada pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, ainda vivo e pai de Cristiane Brasil (PTB) que afinal teve aceita pela Justiça nas últimas horas a sua nomeação para ministra do Trabalho de Michel Temer, depois de protelações motivadas por problemas judiciais que ela enfrenta.
Em outubro de 92, Collor recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto o termo de notificação entregue pelo senador Dirceu Cardoso, comunicando o seu afastamento do cargo por 180 dias para que o Senado pudesse dar prosseguimento ao processo de impeachment iniciado pela Câmara. Impassível, Collor conferiu o relógio, assinou a notificação, despediu-se de auxiliares e funcionários e entrou no helicóptero oficial em direção à Casa da Dinda. Na Câmara, o impeachment de Collor foi aprovado por 105 votos a mais que os 336 necessários. As ruas haviam se manifestado pela saída de Collor através do espetáculo dos caras pintadas, jovens estudantes liderados por um paraibano que era presidente da UNE, o hoje senador pelo Estado do Rio Lindbergh Farias, do PT. Collor havia subido a rampa do Planalto no dia 15 de março de 1990 forrado por 35 milhões de votos e tornou-se um homem de 38 votos que lhe foram dados no Senado. Logo após a saída de Collor do Planalto, completou-se o ritual com a obediência à Constituição: num gabinete anexo ao Palácio do Planalto, o vice-presidente Itamar Franco era efetivado no exercício do cargo até a duração do processo de julgamento de Collor pelo Senado. Na prática, Itamar concluiu o mandato e junto com uma equipe de economistas e o ex-ministro Fernando Henrique Cardoso arquitetou o Plano Real, que estabilizou a economia brasileira e elegeu Fernando Henrique presidente.
Em 89, Collor disputou contra pesos-pesados da política brasileira como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Mário Covas, Afif Domingos, Ronaldo Caiado. Foi para o segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva, líder metalúrgico que se projetou a partir do ABC paulista e ousou criar um partido político, o Partido dos Trabalhadores. Concorrendo pelo PRN, uma legenda minúscula, Collor vendeu a bandeira da modernidade e espalhou o medo entre os eleitores, insinuando que Lula e o PT levariam o país a um estágio de convulsão social. Uma das primeiras medidas desgastantes de Collor foi o confisco da poupança, gesto de que a maioria dos brasileiros não esquece até hoje. Na atual conjuntura, Collor é citado pela Operação Lava-Jato, que foi responsável pela prisão de inúmeros líderes políticos, mas o ex-presidente garante que não estará inelegível nas eleições de outubro próximo.
Nonato Guedes