O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vai ser julgado amanhã em Porto Alegre, num resultado aparentemente imprevisível, entrou na História não só pelo feito que lhe é atribuído, o da ascensão de um torneiro mecânico à presidência da República ou à mais alta magistratura da Nação, mas por ser realmente um fenômeno de massas, tanto assim que se tornou teflon (apesar de graves, as acusações assacadas contra o líder petista não pegam nele). São raros os políticos com essa característica no caso de Lula, a combinação da vitimologia com uma trajetória difícil, árdua mesma, facilitou a configuração do seu perfil. Ressalta uma outra característica que os lulopetistas que o endeusam não gostam de adicionar, mas que é inescapável para o julgamento histórico tanto quanto possível isento: a megalomania que lhe confere um Super-Ego. Lula adquiriu o hábito de elogiar a si mesmo e, com isto, disseminou uma onda de relativo fanatismo, uma aura mística em torno da sua personalidade, a despeito dos mensalões, petrolões e do não sei, nunca tomei conhecimento.
Na verdade, Lula é o queridinho das elites especialmente intelectuais e classistas porque canaliza o ressentimento dessas camadas com o sistema ou com o status quo. Tais camadas não forjaram nomes com a biografia de Lula para chegar ao Palácio do Planalto. Enclausuraram-se em gabinetes ou bibliotecas e salas de aula a pretexto de saciar a sede do saber. Nunca deixaram de cobiçar ou desejar o poder. Apenas não tiveram a coragem de tentar conquista-lo a céu aberto, no desempenho das urnas, que fornecem a sagração e legitimidade para candidaturas. Lula e o PT foram ousados e continuam ousados. Alternam a aura do paz e amor com a prática da perseguição, às vezes, impiedosa, a adversários. A estes se juntam quando precisam sobreviver politicamente, mas depois os descartam com uma engenhosidade incrível.
Abstraindo essas elucubrações, convém repassar algumas das avaliações sobre Lula feitas por ele mesmo. Refletem, na compilação de Claudio Blanc, o narcisismo do metalúrgico que chegou a presidente da República sem ter avançado nos estudos. O que vem a seguir reproduz melhor quem é Lula, segundo Lula:
A elite sabe que eu sou um vencedor. Uma criança nordestina que não morreu de fome até os cinco anos já venceu na vida. Um nordestino que desembarcou de um pau-de-arara, fugindo da seca, e não virou marginal, é um vencedor. No meu governo, um filho de encanador vai disputar vaga na universidade com o filho de uma empresária de teatro como a senhora Ruth Escobar.
Não é mérito, mas, pela primeira vez na história da República, a República tem um presidente e um vice-presidente que não têm diploma universitário. Possivelmente, se nós tivéssemos, poderíamos fazer muito mais.
Cheguei à Presidência para fazer as coisas que precisavam ser feitas e que muitos presidentes antes de mim foram covardes e não tiveram coragem de fazer.
Aprendi a contar até dez, apesar de só ter nove dedos, que é para não cometer erros. Um erro em qualquer outro governo é mais um erro. No nosso, não pode acontecer.
Nunca imaginei que o nível do Congresso fosse tão baixo. Nunca imaginei que a incapacidade fosse tanta. Incapacidade de diálogo, de articulação. Incapacidade política. Nunca imaginei que fosse tamanha a capacidade para negociatas e negócios sujos como os que a gente vê. Chega a dar nojo.
Quando se aposentarem, por favor, não fiquem em casa atrapalhando a família. Tem que procurar alguma coisa para fazer.
O ônus da cobiça desenfreada de alguns não pode recair impunemente sobre os ombros de todos. A economia é séria demais para ficar nas mãos dos especuladores. A ética deve valer também na economia. Uma crise de tais proporções não será superada com medidas paliativas. São necessários mecanismos de prevenção e controle e total transparência das atividades financeiras.
Sobre a data de nascimento: Até hoje é a maior polêmica porque meu pai me registrou no dia 6 de outubro, mas prefiro acreditar na memória da minha mãe, que diz que nasci no dia 27. Coincidência feliz para Lula: 57 anos depois, os dois turnos da eleição que decidiria o futuro do Brasil aconteceriam nestes mesmos dias 6 e 27 de outubro.
LULA é um predestinado?
Por Nonato Guedes