As duas condenações sofridas na esfera judicial brasileira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seguidas de ordens de prisão, golpearam o líder petista na principal bandeira que ele agitou no começo da sua trajetória política, primórdios do Partido dos Trabalhadores: o combate à corrupção, até então encarada como erva daninha que não era extirpada do cenário nacional pela falta de vontade das elites e de políticos dirigentes ou filiados a partidos tradicionais. De extração operária, com fama de metalúrgico no ABC paulista, amplificada pela liderança de greves históricas que assumiu e de negociações que encampou, Lula era, ao conquistar a Presidência, o portador de grandes esperanças, inclusive a de que fizesse uma gestão intransigente com o desvio de verbas públicas.
O próprio Lula, reiteradas vezes, manifestou ter consciência da responsabilidade de empalmar, de verdade, a bandeira da moralidade. Em diversas entrevistas, pontuou que o PT não podia errar ou falhar nesse desideratum o respeito à ética e à moralidade, porque era um partido diferente dos que se revezavam no poder, compostos de figuras remanescentes de oligarquias políticas tradicionais. Em janeiro de 2003, no discurso de posse, Lula da Silva enfatizou: É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública. O presidente acrescentou: Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdício, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. A prática mostrou, porém, que Lula cedeu a injunções e fez o inverso: é acusado de receber propinas e de deixar roubar.
A ética petista foi colocada à prova já em 2005, no primeiro governo, quando estourou o escândalo do mensalão espécie de mesada que era paga a parlamentares de outros partidos, integrantes da base governista., como compensação por votarem favoravelmente a matérias encaminhadas pelo governo. O primeiro a advertir Lula sobre o esquema em funcionamento foi Miro Teixeira, político fluminense. Outros também o alertaram. A reação de Lula foi de incredulidade, ao mesmo tempo em que alegava não ter conhecimento de nada. Depois, com as vísceras do PT expostas, Lula julgou por bem dizer à sociedade que tinha sido apunhalado pelas costas por ex-companheiros. No pronunciamento, pediu desculpas à sociedade. Posteriormente, as coisas desandaram e Lula perdeu o controle da situação, a ponto de também acabar mencionado em escândalos como o da Petrobras.
Numa edição histórica, a revista Veja observou que os petistas jamais admitiram a lama em que se jogaram no mensalão, no petrolão e nas adjacências da criminalidade no governo. Os poucos que faziam uma autocrítica, quase sempre anonimamente, dizem que o partido começou bem-intencionado em relação ao combate à corrupção,mas uma vez alçado ao poder entregou-se a práticas históricas do fisiologismo, desvio de dinheiro e propina. A ex-presidente Dilma Rousseff, que assumiu em primeiro de 2011, declarou: Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente. Dilma deixou o governo no primeiro ano do segundo mandato, acusada de pedaladas fiscais. Uma outra acusação que poucos sabem: Dilma possui conta secreta no exterior, como consta nos depoimentos de delatores a investigadores da Lava Jato. O PT demonstrou que a promessa de combater a corrupção não era para valer e, fazendo isto, decepcionou parcelas expressivas da sociedade.
Nonato Guedes