O nascedouro do Partido dos Trabalhadores na Paraíba foi pontuado por embates que abalaram a legenda, com manobras para expulsão de quadros importantes, como o então deputado Ricardo Coutinho, atual governador, e divergências acirradas em torno de alianças com forças chamadas de conservadoras. Houve vetos ao ingresso na legenda do senador Antônio Mariz, já falecido, da ex-deputada Lúcia Braga e do ex-senador Marcondes Gadelha. Este chegou a ser ironizado como político burguês, que nunca vestiu um macacão de operário, Marcondes, não obstante, defendeu presos políticos ligados ao PT no regime militar e tinha acolhida de líderes petistas nacionais para ser aceito no partido, mas a filiação foi congelada diante da insistência dos dirigentes paraibanos de terem o poder de deliberação nas questões locais.
Essa fase do PT, denominada por alguns analistas de radicalismo ou xiitismo político, está narrada no livro O Partido dos Trabalhadores e a política na Paraíba: construção e trajetória do partido no Estado, do professor Paulo Giovani Antonino Nunes, que ainda recentemente presidiu a Comissão da Verdade instituída no Estado pelo governador Ricardo Coutinho para apurar violações contra os direitos humanos praticadas entre 1964 e 1985. Ele conta que o embate versando sobre a hipótese de expulsão de Ricardo explodiu no ano de 2000 patrocinado pelo chamado Campo Majoritário, formado pelas correntes Articulação e Democracia Radical. Ricardo, que foi o mais votado na história do partido, era considerado independente mas sempre fechava com o chamado Campo de Esquerda. O processo começou com a definição da escolha do candidato a prefeito de João Pessoa, sendo Ricardo inicialmente o escolhido. Depois, renunciou, alegando boicote da direção do partido.
Depois das eleições municipais, a disputa interna manteve-se acirrada no PT. Alguns membros do diretório municipal do PT de João Pessoa anunciaram que iriam expulsar os deputados Avenzoar Arruda, Frei Anastácio Ribeiro e Ricardo Coutinho, além de onze filiados que haviam sido candidatos a vereador na Capital. O presidente do diretório pessoense, Walter Aguiar, acusou os petistas de infidelidade partidária por não apoiarem a candidatura de Luiz Couto a prefeito ee culpou o grupo pela derrota petista. Ricardo, em manifestação a respeito, frisou que só tinha a lamentar a atuação de um grupo que, a seu ver, causou enorme prejuízo à agremiação. Nós fomos atacados o tempo todo e abraçamos candidaturas de companheiros do PT, não só em João Pessoa, mas em outros municípios, defendeu-se. Uma Comissão de Ética chegou a ser formada para apurar a acusação de infidelidade contra Ricardo, mas este se negou a prestar esclarecimentos quando convocado, alegando desconhecer o teor das acusações. Ricardo queixou-se, na época, do deputado Luiz Couto por agressão física. Disse que Couto o agredira pelas costas e o empurrara acintosamente durante um Encontro do PT. Com a persistência da ameaça de expulsão disciplinar, Ricardo resolveu se filiar ao PSB, pelo qual disputou a prefeitura de João Pessoa, sendo eleito em 2004, reeleito em 2008 e, posteriormente, eleito e reeleito governador.
Coutinho resolveu relevar as acusações que sofreu de petistas e o processo desgastante que enfrentou na legenda, tanto assim que solidarizou-se com a presidente Dilma Rousseff quando ela enfrentou o processo de impeachment e, mais recentemente, ficou ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando das duas condenações judiciais por ele enfrentadas. Trouxe Lula e Dilma à Paraíba para a inauguração informal de obras da transposição do rio São Francisco, que dias antes haviam sido oficialmente entregues pelo presidente Michel Temer (PMDB). Na frente de Temer, em palanque armado no canteiro de obras, no Cariri, Ricardo destacou ostensivamente a atuação e a importância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a concretização da transposição de águas. Os petistas têm apoiado a atual administração de Ricardo Coutinho, mas o apoio não é incondicional.
Nonato Guedes