Fontes políticas confiáveis revelam que está cristalizado o rompimento político entre o governador Ricardo Coutinho (PSB) e sua vice, Lígia Feliciano (PDT), esposa do deputado federal Damião Feliciano, presidente do diretório estadual do partido. Os sinais de distanciamento ganharam força com recentes declarações de Ricardo à imprensa, insinuando ausência de Lígia em eventos oficiais e atribuindo desimportância ao episódio. Em alguns setores ligados ao clã Feliciano as declarações do governador foram consideradas até mesmo machistas e deselegantes para com a companheira de chapa da campanha de 2014.
O pano de fundo da divergência está relacionado com a sucessão ao governo do Estado nas eleições previstas para outubro. Lígia e o marido esperaram, em vão, um aceno qualquer do governador Ricardo Coutinho em apoio a uma virtual candidatura dela ao Palácio da Redenção, da mesma forma como aguardavam que Ricardo se desincompatibilizasse do cargo para disputar o Senado e, assim, facilitasse a investidura de Lígia para completar o mandato. O governador, em termos de candidatura, adotou publicamente o nome do secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos, João Azevedo, que passou a ser orador frequente em solenidades públicas envolvendo entrega de obras, numa estratégia para massificar seu nome, já que ele nunca disputou mandatos políticos. Filiado ao PSB, Azevedo teve ensaiado o seu pré-lançamento como candidato a prefeito de João Pessoa em 2016, mas a cúpula enfeixada por Ricardo acabou optando pela candidatura da professora Cida Ramos, que não chegou, sequer, ao segundo turno.
A estratégia do governador, de acordo com fontes que lhe são próximas, teria sido a de poupar João Azevedo de um desgaste na eleição municipal e prepara-lo para um desafio maior e mais importante para o projeto que Ricardo comanda a manutenção do governo do Estado. Agindo de forma monocrática, sem consulta a outras lideranças representativas do seu esquema político, o governador tem sinalizado que pode permanecer no governo até o último dia para garantir a vigência do projeto administrativo em execução, evitando supostas ameaças ao cronograma por ele traçado. Em uma oportunidade, pelo menos, Ricardo admitiu desincompatibilizar-se e disputar o Senado se isto fosse estrategicamente relevante para o projeto do PSB, partido que comanda. Mas tem sido recorrente a insinuação de Coutinho quanto à permanência até o último dia.
Esta decisão está sendo interpretada em algumas áreas políticas como falta de confiança do governador Ricardo Coutinho na atuação da vice Lígia Feliciano. O tom de menosprezo adotado nas mais recentes afirmações acentuou a sensação, no próprio clã Feliciano, de indisposição do governador para com o deputado Damião e sua mulher, a doutora Lígia, dando à relação entre eles um aspecto de hostilidade ou de desentendimento. O deputado Damião Feliciano, desde o início do processo, ainda no ano passado, admitiu como natural o desejo de sua mulher de ascender ao governo do Estado e, se possível, disputa-lo nas urnas com o apoio de Ricardo. Deixou claro, porém, que o clã manteria lealdade política a Ricardo até o final da sua gestão. Diante dos últimos acontecimentos, o quadro torna-se imprevisível, não se descartando, em certos setores, uma reação mais forte do grupo do PDT liderado pelo deputado Damião Feliciano.
Por Nonato Guedes