Um tema recorrente no cenário político paraibano este ano diz respeito à transferência de votos nas eleições de outubro, diante da teimosia do governador Ricardo Coutinho (PSB) em avalizar a candidatura do técnico João Azevedo à sua sucessão, sem que o seu secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos jamais tenha disputado um pleito, mesmo para vereador. A polêmica é suscitada pelos adversários de Ricardo, que o acusam de personalismo e previnem que ele pode quebrar a cara com uma derrota acachapante nas urnas, mesmo se permanecer no governo até o último dia de mandato e não disputar o Senado, já que demonstrou ultimamente que não confia na sua vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do best seller A cabeça do brasileiro e de A cabeça do eleitor sustenta em outro livro Quem disse que não tem discussão? que a transferência de votos no Brasil é um mito e a que a maior prova de que a tal migração não existe se deu na eleição de 1989, quando o falecido governador Leonel Brizola apoiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquela ocasião, a grande massa dos eleitores que votou em Brizola no primeiro turno, principalmente no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, votou em Lula no segundo turno. Para a maioria dos analistas, a prova da transferência estaria aí: Brizola declarou apoio a Lula e seus eleitores votaram em Lula. Mas para Alberto Carlos Almeida, cabe perguntar: se Brizola tivesse pedido aos seus eleitores no primeiro turno que votassem em Fernando Collor no segundo, isso teria acontecido? Não, claro que não. Portanto, não há transferência de votos, sentencia o cientista político e escritor, respeitado em fóruns acadêmicos do Sul do País e no exterior.
Para Almeida, não há mágica. O que Brizola fez foi muito simples. Ele já sabia que os seus eleitores votariam em Lula de qualquer maneira. Assim, antes que isso ocorresse, ele se antecipou e declarou apoio ao candidato do PT. No final, Brizola posou de grande líder, o que não era bem assim. A inexistência de transferência de votos não discrimina quanto à coloração partidária, seja o PT, o PDT, o fato de um governante ser popular não assegura que os eleitores vão seguir o seu conselho quando se trata de votar.
Na Paraíba, na conjuntura deste ano, há uma prova dos noves para o governador Ricardo Coutinho, que até aqui não perdeu qualquer eleição para prefeito da Capital, governador ou deputado estadual, tendo derrotado líderes que foram seus adversários e aliados políticos como José Maranhão e Cássio Cunha Lima. Não logrou, porém, transferir votos para as candidatas a prefeita de João Pessoa, Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, em 2012 e 2016 ambas não foram sequer ao segundo turno. E o desafio, agora, é maior, porque Ricardo já não mais disputará o governo, que venceu duas vezes, nem arriscará até o Senado, para o qual é tido como favorito. Mas acredita que pode transferir votos para João Azevedo e elegê-lo sucessor. Se conseguir isto, terá sido a maior proeza de todos os tempos na história política das últimas décadas na Paraíba,
Nonato Guedes